Na França, o Big Brother não sobreviveu a duas temporadas. Em países como a Argentina e o México, esse programa, que é o mais famoso reality show do mundo, ainda não passou da terceira edição. No Brasil, a fórmula criada pela holandesa Endemol continua a pleno vapor. Em sua sexta versão (a mais morna de todas), o Big Brother Brasil ainda sustenta o título de segunda maior audiência da Rede Globo. O que seduz o telespectador é a promessa de que tudo o que se vê é verdadeiro, real, sem qualquer tipo de manipulação. O que vai ao ar é registrado pelas 42 câmeras espalhadas no spa-prisão em que estão confinadas dez pessoas no BBB6. Mas a historinha em pílulas, que mostra os romances, as brigas e os conchavos mais interessantes, esconde “forças ocultas” que o telespectador não vê.

Na emissora, o BBB funciona como um quinto horário de novelas. Em todas as versões, sempre houve os vilões articuladores, as mocinhas românticas e os galãs conquistadores. Isso sem contar as figuras com as quais o público se identifica, encarnadas pelo caipira bonachão ou por tipos mais humildes. Todos os personagens se envolvem em tramas, como num folhetim sem script, graças às edições produzidas pela equipe chefiada pela jornalista Fernanda Scalzo. São praticamente dois BBBs: aquele dinâmico em horário nobre e um outro, enfadonho de fazer dormir, que são as 24 horas transmitidas pelo pay-per-view.

Quem já passou pelo BBB confirma as escolhas tendenciosas da direção. “A
edição é cruel. Fui retratado como um cara autoritário e maníaco por limpeza”,
diz o consultor de marketing Edílson Buba, que participou da quarta temporada. “É uma disputa milionária. Para ser justa não deveria haver julgamentos. A montagem induz o voto do público.” A lutadora de boxe Tatiana Giordano, que esteve no programa com Buba, também reclama da sua imagem que ia ao ar: “Fui vendida como uma pessoa violenta, e isso não é verdade.” A principal reclamação dos brothers “transformados” em vilões é que a equipe de edição se prende a fatos isolados e desconsidera suas atitudes positivas. Tatiana assume ter discutido com outros concorrentes, mas destaca que deu dicas de saúde e aulas de musculação para os colegas. Já Buba relembra que Marcelo Dourado, outro notório “malvado” do BBB, fazia imitações hilárias do apresentador Silvio Santos, mas elas nunca foram valorizadas. “Eram momentos engraçados em que todos se divertiam e isso nunca foi mostrado”, diz ele.

Existe outra forma, indireta, de interferência da produção do reality show. Nas festas oferecidas aos participantes nas noites de sábado, há uma variedade de bebidas alcoólicas, garantindo momentos mais quentes na casa do BBB. “Sempre lançavam uma cervejinha para deixar o pessoal mais solto”, diz a apresentadora Sabrina Sato, participante da terceira edição do programa. Buba lembra que, quando algum grupo começava um papo mais apimentado, “sempre rolava um drinque por conta da casa”. No paredão que eliminou esta semana a cearense Roberta Brasil, a bebedeira teve a sua parcela de culpa. Foi após generosas doses de cachaça numa festa nordestina que a moça ficou com o modelo Daniel Saullo, que mal havia terminado um affair com a concorrente Mariana Felício. Tudo aconteceu na frente da ex, levando-a às lágrimas em rede nacional. Na seqüência, Daniel e Roberta foram eliminados. “Um barril de cachaça tirou o Saullo e a Beta”, disse na terça-feira 7, e no ar, o participante Carlão Castello.