As wahines – assim são chamadas as mulheres surfistas – invadiram de vez as praias mais agitadas do País. Uma nova geração de belas e competentes atletas “montou escritórios” nos mares e, a cada onda, exibe um desempenho melhor sobre pranchas parafinadas. Hoje, elas são tantas que o Brasil conta até com uma safra de campeãs, liderada pela catarinense Jacqueline Silva, dona de vários títulos, entre eles o de campeã mundial do circuito WQS em 2001. No Rio de Janeiro, elas lotam clínicas de surfe, montam points em praias como Saquarema, Búzios e Prainha e criam um mercado consumidor diferente, com pranchas mais coloridas e personalizadas, bijuterias e cover blocks (máscaras para bloquear os raios solares), apetrechos raros entre os garotos pegadores de onda.

“O surfe perdeu o preconceito e ficou
mais charmoso”, festeja o presidente da Federação de Surfe do Estado do Rio de Janeiro (Feserj), Pedro Falcão, 40 anos. Gerente do Circuito Brasileiro Profissional, Falcão diz que hoje entre 10% e 20% dos surfistas são mulheres. Muitas migraram do body board, esporte em que se desliza no mar deitado na prancha, ainda mais freqüentado pelas meninas. Isabela Garcia, 12 anos, nos tubos desde os nove, é umas dessas promessas. Em 2004, foi a segunda colocada em sua categoria no Circuito Petrobras de Surfe Feminino. “Me apaixonei pelo surfe porque meu pai e meu irmão praticavam”, explica, com uma prancha rosa embaixo do braço. A inspiração de Milla Ferreira, 15 anos, também veio de casa. Ela é filha do surfista profissional Francisco Ferreira, o Frajola. “O surfe é a melhor maneira de juntar natureza e diversão.”

Isabela deseja ter um futuro semelhante ao de Tatiana de Souza Amaro, 27 anos, que dificilmente passa um dia sem subir numa prancha. “Meus namorados surfavam e eu não gostava de ficar na areia. Um dia perdi a vergonha e caí no mar”, revela Tatiana, da geração apelidada de blue crush, referência ao título original do filme A onda dos sonhos, sobre mulheres surfistas. “Em alguns pontos, já somos maioria”, lista Tatiana, que tem quatro pranchas: uma vermelha, uma verde, uma lilás e outra branca e lilás.

O boom levou Laila Werneck, 41 anos,
a abrir no Rio a primeira clínica de surfe
para mulheres no País, a Deusa do Sal,
que “formou” mais de 150 mulheres dos seis aos 50 anos. Ela fornece um dado impressionante: 80% do público das escolinhas é feminino. Quando começou a pegar onda, há 22 anos, mulheres e pranchas eram uma união rara. Hoje, mostra à nova geração o exemplo de feras como Andréa Lopes, 32 anos, tricampeã brasileira profissional. “Mulher e surfe é uma ótima combinação numa cidade como o Rio”, concorda a surfista e fisioterapeuta Priscila Barcik, 25 anos, uma das sócias de outro curso para meninas, o Vitality. Ela prepara um estudo sobre os problemas físicos enfrentados pela nova geração de surfistas entre 12 e 35 anos, principalmente dores lombares. O que mostra que, se o mar está para peixe, nem tudo é azul no reino de Netuno.