A bela e gelada Sestriere, badalada estação de esqui italiana a dois mil metros de altitude, é uma das três vilas olímpicas dos Jogos de Inverno de Turim. A competição proporciona grandes espetáculos de saltos e quedas, num visual arrebatador. O vilarejo abriga parte dos 2,5 mil atletas de 85 países e sua temperatura oscila entre sete e cinco graus negativos. O barulho dos helicópteros no seu céu azul é incessante. Protegidos por um feroz esquema de segurança, que consumiu 100 milhões de euros (cerca de R$ 260 milhões), os atletas são submetidos a constantes revistas. A presença extravagante de uma equipe brasileira numa olimpíada de inverno contribui para desanuviar o ambiente de excessivo controle. “Onde tem brasileiro tem pandeiro e festa”, diz Ricardo Raschini, piloto do trenó da equipe de bobsled, aquele bólido que rasga pistas sinuosas de gelo a 140 km/h. Raschini é um dos dez atletas que representarão o País nos alpes italianos.

No trenó de Raschini também estará o fundista Claudinei Quirino, medalha de prata nas Olimpíadas de Sidney em 2000, que faz sua estréia na versão olímpica de inverno. Na quarta-feira 8, Raschini preocupava-se com deficiências na largada de sua equipe, quesito fundamental para o sucesso na corrida. Faltam, segundo ele, pistas para treinar e aprimorar o fundamento. “Qualquer prefeitura poderia construir uma, é fácil e barato”, disse a ISTOÉ, da vila olímpica de Sestriere. Talvez seja difícil um prefeito brasileiro gastar dinheiro numa pista de bobsled. Mas, aos poucos, os atletas ganham visibilidade. Pela primeira vez, o País concorre em quatro modalidades: esqui alpino, snow board, esqui cross-country e bobsled.

As chances de medalha são virtualmente nulas, mas a snow boarder carioca Isabel Clark, a melhor atleta de neve brasileira, poderá obter um resultado aceitável. Eric Maleson, presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, exulta ao lembrar que a equipe brasileira de bobsled se classificou em seletivas duríssimas, que eliminaram países com tradição no esporte. O mico, segundo ele, acabou sendo a eliminação da Jamaica. Tão tropical quanto o Brasil, o país ficou famoso depois do filme Jamaica abaixo de zero. A história mostrava a luta real de um time de jamaicanos numa olimpíada de inverno. Por causa do filme, a equipe caribenha atraiu pesados investimentos da italiana Fiat. Mas não chegou lá. A delegação brasileira, por sua vez, recebeu nos últimos três anos R$ 1,5 milhão do Comitê Olímpico Brasileiro através da Lei Piva. Pouco se comparado aos Estados Unidos, que só no ano passado investiram US$ 55 milhões (cerca de R$ 120 milhões) em seus atletas. O Brasil participa das Olimpíadas de inverno desde 1992 – os jogos existem desde 1924. Espera não derrapar feio. E voltar sempre.