Com sua fúria beligerante, o presidente George W. Bush está sendo decisivo para o crescimento do mercado de consumidores que boicotam os produtos americanos. Uma empresa francesa já está fazendo dinheiro com um produto que tem cara de Coca-Cola, embalagem vermelha e branca de Coca-Cola e sabor que, graças ao trabalho de químicos de alimentos da França, é muito parecido com o da Coca. Seu nome é Mecca-Cola, produto criado na França pelo tunisiano Tawfik Mathlouthi, 46 anos, para capitalizar o sentimento anti-americano que cresce dia-a-dia com as exibições explícitas de desequilíbrio e obsessão pela guerra de Bush.

O empreendedor que dirige uma estação de rádio para a minoria muçulmana da França já pode se considerar bem-sucedido como empresário: em dois meses ele conseguiu vender no país dois milhões de garrafas de um litro e meio de Mecca-Cola. O produto estourou na região de Saint-Denis, em Paris, onde vive a maioria da comunidade muçulmana na França e onde está localizado o magnífico estádio onde o Brasil perdeu a Copa de 1998. Dez por cento do que fatura segue direto para crianças palestinas, um apelo que toca o coração e induz ao consumo do produto (outros 10% estão sendo discutidos para ajudar grupos que trabalham com crianças com Aids na África). “A demanda tem sido fenomenal”, disse Mathlouthi ao jornal inglês The Guardian, revelando que já tem encomenda de 16 milhões de garrafas. Não é nada que se compare com a Coca, que vende 246 milhões de litros por dia, mas não deixa de ser um belo desaforo à hegemonia americana.

Alguns executivos da Coca – que tem apenas 2% de seu faturamento no Oriente Médio, onde é superada pela Pepsi – tratam com enorme desdém a Mecca-Cola, mas, no fundo, no fundo, odeiam o atrevimento. “Não acreditamos que uma campanha por boicote seja o melhor caminho para defender qualquer causa”, disse à imprensa o diretor de comunicações da empresa na Grã-Bretanha, Martin Morris. A realidade, porém, mostra que ele não fala a verdade. Não fosse pelas informações do presidente da Coca-Cola na África, Alexander B. Cummings Jr., de que os negócios nesses países (Norte e Oeste da África, principalmente o Marrocos e o Egito) foram prejudicados pelo boicote às marcas americanas, seria pelo sucesso da Mecca-Cola. O negócio vai tão bem que a empresa se prepara para entrar na Grã-Bretanha, onde foram criadas duas empresas, a Mecca-Cola UK. e, com um parceiro, a Mecca-Cola Distribution. Chegam encomendas de alguns Etados americanos (Califórnia, Flórida e Nova York), da Bélgica e Alemanha – juntamente com ofertas de empresas que desejam se tornar distribuidoras.

Boicotar produtos americanos é a única arma pacífica que os
muçulmanos encontram para ferir o adversário, que neste momento desenha um cenário de catástrofe contra o Iraque, que deixará,
segundo a ONU, pelo menos 500 mil feridos e três milhões de famintos.
Os muçulmanos são uma potência, centenas de milhões de pessoas de uma vasta classe de raças, nacionalidades e culturas, desde as Filipinas até a Nigéria. Cerca de 18% vivem no mundo árabe, sendo a maior comunidade islâmica a da Indonésia.

É um estímulo para o projeto de Mathlouthi e investidores de montar uma rede de restaurantes de frango frito chamada Hallal Fried Chicken, ou HFC, o primeiro em março, provavelmente no Egito. E, tudo indica, os negócios não param por aí. Nos últimos anos multiplicaram os pedidos para árabes boicotarem marcas americanas. Ao The New York Times, Mathlouthi contou o segredo do sucesso: “Estamos gerando trabalho e cumprindo um objetivo político.”