A CPI dos Correios voltará a ser a principal protagonista da cena política nacional. Ainda esta semana, Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas Centrais Elétricas S.A., deverá prestar esclarecimentos sobre o que em Brasília já é chamado de “Dimasduto”. Trata-se de uma listagem com os nomes de 156 políticos, a maior parte ligada ao PSDB e ao PFL, que teriam recebido dinheiro de um caixa 2 gerenciado pela central elétrica na campanha eleitoral de 2002. O documento, redigido em papel timbrado, é composto por cinco páginas, relaciona a distribuição de mais de R$ 40 milhões e até aponta a origem dos recursos: grandes empreiteiras, bancos, empresas estatais e prestadores de serviços para Furnas. A lista é datada de 30 de novembro de 2002 e assinada por Dimas Toledo. Em outubro passado, os repórteres de ISTOÉ Amaury Ribeiro Júnior e Rodrigo Rangel obtiveram cópia do documento, que lhes foi entregue por Nilton Monteiro, um mineiro tão polêmico quanto a lista, que se autodefine como lobista. A papelada foi, então, submetida ao perito Ricardo Molina de Figueiredo. Após analisar o documento, Molina concluiu não haver indícios de fraude, mas foi enfático ao assinalar ser impossível atestar a sua autenticidade, por se tratar de uma cópia. Até o fechamento desta edição, Monteiro não havia apresentado o documento original, como prometera tanto aos repórteres como à Polícia Federal, a quem entregou a mesma listagem.

Depois de passar a cópia da lista para ISTOÉ, Monteiro a distribuiu a lideranças do PT de
Minas Gerais e de Brasília, e, antes que o documento fosse oficialmente entregue à PF
e ao Ministério Público, circulou pela internet.
Tanto Dimas como alguns dos supostos beneficiados negam a veracidade do documento. No começo de novembro de 2005, ISTOÉ
procurou o ex-diretor de Furnas, no Rio de
Janeiro. Em nota enviada à revista, ele disse
que não se manifestaria “sobre documento material e substancialmente falso, objeto de montagem forjada com o único propósito de tumultuar o já conturbado momento político nacional”. Para líderes do PSDB e do PFL, a lista de Furnas é uma armação que tem o objetivo de neutralizar as denúncias de caixa 2 nas campanhas eleitorais do PT. A favor desse argumento há o passado do denunciante e alguns erros flagrantes na própria lista. Monteiro é um velho conhecido da Justiça. Responde a uma dezena de processos, muitos por falsificação de documentos e outros por estelionato. Na lista apresentada por ele constam a distribuição de recursos a candidatos que não foram candidatos, nomes redigidos de forma incorreta e até a troca do partido de alguns dos supostos recebedores do dinheiro. Também reforça a tese de que tudo é uma armação o fato de Monteiro se contradizer, principalmente quanto ao paradeiro do documento original, nos dois depoimentos que já prestou à Polícia Federal. Apesar dessas nebulosidades, petistas insistem em levar a lista de Furnas para os holofotes da CPI. Apostam que uma investigação mais profunda poderá levar a um milionário caixa 2 tucano. A favor deles pesa o fato de que denúncias anteriores feitas pelo próprio Monteiro acabaram se confirmando. O caso mais recente atingiu o ex-presidente do PSDB senador Eduardo Azeredo (MG). Monteiro afirmou que o senador recebera dinheiro não declarado do publicitário Marcos Valério. Mostrou uma planilha com custos e receita da campanha de Azeredo, que acabou perdendo o posto no partido.

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), não acredita que o depoimento de Dimas Toledo traga novidades. “Deveríamos esperar uma conclusão da PF antes de ouvir o depoimento”, disse. Na Polícia Federal, o caso é tratado com cuidado. “Estamos investigando tudo em profundidade e não podemos ser levianos para de antemão atestar ou não esse documento”, afirma o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. São cuidados essenciais num Estado democrático.