Invariavelmente, o fotógrafo e parceiro de jornada João Castellano acorda com um humor e uma disposição dignos de monitores de bufês infantis. Em geral, isso é bom, deixa tudo mais leve e faz nascer a expectativa de um dia em que tudo vai dar certo. Mas, quando não cai bem, essa euforia matinal cobra uma dose extra de paciência deste velho homem de imprensa. Na manhã deste sábado foi assim.

Na noite anterior, havíamos deixado o Centro de Imprensa depois da 1 da manhã. Para piorar, ainda tínhamos de achar algo para comer e precisávamos abastecer o carro. O primeiro problema foi resolvido no Oxxo, uma espécie de loja de conveniência que atende os notívagos famélicos nas madrugadas de Guadalajara. O segundo, um posto 24 horas solucionou. Isso tudo empurrou a hora da nossa chegada ao hotel para 2h20. Agora, o toque cruel: tínhamos uma entrevista agendada às 9h e a cerca de meia hora do hotel.

Quem já conviveu com jornalistas sabe como é uma martírio para esse tipo de gente ter de fazer alguma coisa pela manhã. Somos capazes de, felizes, pedir o último combo de caldinho de feijão e chope às 3 da manhã numa madrugada de terça-feira. Mas não espere nos encontrar sorridentes em eventos agendados para antes da 10h. Um evento esportivo explicita o conflito entre os fusos horários de jornalistas e atletas. Mas compromisso é compromisso. E chegamos ao encontro no horário marcado. Graças à disposição do nosso repórter, o entrevistado distribuiu em porções iguais a impressão de que a dupla estava bem humorada. Te devo essa, João!

Nada tem sido muito fácil por aqui. As informações são desencontradas, alguns endereços brincam de esconde com a gente e os policiais ainda não decidiram o que pode e o que é proibido. Exemplifico isso com uma das nossas tarefas de hoje: conversar com o mesa-tenista Hugo Hoyama, o homem que carregou a nossa bandeira durante a cerimônia de abertura na sexta-feira.

Onde você iria procurar um atleta que havia jogado uma partida pela manhã? Na Vila Olímpica, claro. E para lá nós fomos, pouco depois das 13h. Ao chegar perto da construção, fomos parados numa barreira pelos federales. Apesar de nossas credenciais, tivemos de explicar que somos jornalistas brasileiros e que iríamos entrevistar um atleta. E aí o oficial disse que o carro não podia entrar, mas retrucamos dizendo que não iríamos estacionar dentro da Vila. Mesmo assim, não pode. “Mas seu guarda…”. Quando a situação parecia insolúvel, mais uma vez o Castell(h)ano resolveu a parada. Entramos.

Problema resolvido? Que nada. Ficamos sabendo por um colega da TV Record que o Hugo havia ficado no local de competições participando de um programa para a sua emissora. Tentamos falar por rádio – emprestado, pois não tenho esse aparelho da Nextel que acabou virando o meio oficial de comunicação por aqui – com a coordenadora brasileira do tênis de mesa. Sem sucesso. Depois de pensar e almoçar, decidimos encarar a cerca de uma hora de viagem que separa a Vila do ginásio que abriga o esporte, pois Hoyama jogaria outra partida dali a 40 minutos. Partimos sabendo que a chance de encontrar com o homem era mínima.

No caminho, repetimos o ritual de sempre: pega uma entrada errada, pergunta, procura no mapa, não encontra e assim por diante. Apesar de todas as dificuldades, conseguimos chegar perto do ginásio. Ali, fomos inquiridos por nova barreira de “federales”. Esses foram menos embaçados. Estacionamos numa viela e corremos na direção do prédio. A ideia era dobrar a esquina para chegar até a entrada principal. Mas havia uma lateral. Enquanto passávamos por ela, feito aparição de budista tibetano, vejo o mesa-tenista descendo na direção dessa entrada. “Olha o Hugo”, foi tudo o que eu consegui dizer, com aquele ar de criança que vê Papai Noel no shopping. Foi muita sorte. Cinco minutos a mais no trânsito e perderíamos o homem.

O tempo em que ficamos juntos foi suficiente para que eu o entrevistasse e para que agendássemos um encontro para fotos. O problema: vai ser às 9h30. E do domingo! Bom, vou dormir agora e tentar não ter pesadelos com a euforia do meu querido fotógrafo amanhã de manhã.