Dois amigos mergulham em uma pequena e imaginária cidadezinha insignificante do litoral gaúcho e encontram, dentro dos restos de uma caravela quinhentista afundada, uma imensa arca de prata contendo nada menos que sete vampiros. Depois, um pequeno arranhão na mão da mocinha pesquisadora, umas gotinhas de sangue e, pronto, lá começam a voltar à vida os protagonistas de Os sete (Novo Século, 380 págs., R$ 39), obra que marca a bem-vinda estréia no mainstream editorial brasileiro do jovem escritor André Vianco.

Lançado inicialmente com uma modesta tiragem bancada pelo próprio autor, Os sete acabou vendendo tanto nas livrarias nas quais aportou que atraiu a atenção de um experiente profissional do mercado, o editor Luiz Vasconcelos. Vendo por acaso
um exemplar da obra numa livraria do Rio de Janeiro, procurou Vianco para juntos criarem a mais nova editora do País, a Novo Século. Uma editora que pretende disputar o rentável e manjado filão da auto-ajuda
e do sobrenatural, mas que já nasceu com o inquestionável mérito de estar pagando um salário para que o escritor em questão produza seus livros sob o pretexto de, nas horas vagas, ajudar a selecionar novos títulos. Iniciativa, como se sabe, raríssima por estas bandas.

A aposta de Vasconcelos se justifica plenamente nas primeiras páginas do livro de André Vianco, que anda pela casa dos dez mil exemplares vendidos sem nenhuma divulgação. Trata-se de um delicioso romance de terror, sim, mas um terror urbano e, por que não, até debochado na exata medida tropical em certos momentos. Vianco não perde o pique nem, com toda irreverência, deixa passar uma boa piada. Afinal, os vampiros são portugueses, ó pá! Para os aficionados do gênero, aqueles que esperam ansiosamente pela próxima tradução de Anne Rice ou de Stephen King, a falta de um contexto sombrio para a história, no início, pode parecer esquisito. Mas só no início. O espanto de ver vampiros se tratarem por “Ó gajo” e a ousadia de dar-lhes poderes mais prováveis em supervilões da Marvel Comics do que nas catacumbas da Transilvânia é rapidamente superado pelo excelente ritmo da narrativa e pelo ágil encadeamento dos acontecimentos, que vão desaguar em Osasco.

O município paulista, por sinal, é a terra natal de Vianco, que faz questão de ressaltar nunca ter estado no Rio Grande do Sul, muito menos ser gaúcho, como é levada a acreditar a maioria dos leitores de seu livro. “Eu afundei a caravela lá no Sul porque imaginei que ali, naqueles tempos, seria o mais longe que os portugueses imaginariam jogar alguma coisa”, explicou o autor a ISTOÉ. Ele também contou ter no mínimo mais uma sequência pronta para Os sete, batizada de Sétimo, a ser lançada em abril próximo. Ainda há de vir mais, confessa ele com o entusiasmo de seus 27 anos. “Tenho muitos livros prontos e também roteiros para filmes, que eram minha primeira paixão, mas custam mais caro”, diz ele. É bom aguardar. Qualquer um que leia seu romance vai perceber que ele está prontinho para ser filmado. Só falta um diretor escolher o elenco.