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/wp-content/uploads/istoeimagens/imagens/mi_5301462267165275.jpg"Eu sou Santa Cruz de corpo e alma/E serei sempre de coração/ Pois a cobrinha quando entra no gramado/ Eu fico todo arre pia do/E torço com satisfação." Esse é o hino popular do Santa Cruz Futebol Clube, que tem a cobra-coral como mascote por conta das cores vermelho, branco e preto, as mesmas do time. No domingo 9, foi a última vez no ano que a música entoou nas arquibancadas e a cobrinha entrou em campo. Campeão pernambucano 24 vezes, time mais popular do Recife e dono do segundo maior estádio particular do Brasil, o Arruda (com capacidade para 60 mil pessoas), o Santa Cruz empatou com o CSA, de Alagoas, jogando em casa. Foi eliminado na primeira fase da série D do Brasileirão ao terminar na lanterna de uma chave de quatro equipes – duas se classificavam. Seus torcedores terão de aguardar até janeiro de 2010, quando começa o campeonato pernambucano, para voltar a saudar a cobrinha.

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Trata-se do capítulo mais triste da história do clube, que revelou jogadores como Rivaldo, Givanildo e Ramon. Pior do que amargar três rebaixamentos seguidos desde 2006 é não conseguir ascender a uma inexpressiva série C. Ao contrário do que se podia esperar, considerando a cultura do futebol brasileiro, não houve protestos por parte dos torcedores. A torcida do Santa Cruz, que se denomina a mais fanática do Brasil, parece conformada com o fato de o time ter chegado ao fundo do poço – não existe série E no Brasileirão. Para esses apaixonados, o pior é passar cinco meses sem ter para quem torcer. "Não importa se estamos na série A, B, C ou D ou o placar do jogo", diz Augusto Dornelas Câmara, 66 anos, filho do fundador do clube. "O nosso prazer é manifestar a paixão pela instituição."

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Reunidos na terça-feira 11, dirigentes e torcedores concluíram que a administração atual, empossada em outubro, marcou gols gerenciais, mas pecou pela falta de experiência na condução do futebol. "Tivemos problemas no ataque do time", diz Roberto Arraes, presidente do conselho deliberativo. "Mas também tivemos azar: em quatro jogos chutamos 12 bolas na trave. Se uma entra, a história é outra." Com a inatividade à vista, o Santa Cruz poderá amargar um prejuízo de R$ 1 milhão até o fim do ano. A folha de pagamento de R$ 270 mil deve sofrer um corte. "A ideia é ficar com 20 dos 33 jogadores", diz Arraes. Para piorar, funcionários administrativos reivindicam o pagamento de três meses de salários atrasados – cerca de R$ 350 mil.

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Motivo de comemoração é a fidelidade dos torcedores, um caso singular diante da pífia campanha do time. Mesmo na série D, o clube registra a segunda maior média de público jogando em casa, superior à de Corinthians e Flamengo, da série A (leia quadro). No último jogo, no domingo 9, 30 mil pessoas estiveram no Arruda. "A dificuldade da conquista aproxima sentimentos de sofrimento de torcedores de clubes de massa", diz Túlio Velho Barreto, do núcleo de sociologia do futebol da Fundação Joaquim Nabuco, do Recife. A arquibancada estava tomada por pessoas que passavam a mão no rosto em desespero e juntavam as palmas em oração. "Lembro de olhar para o público e ver que ninguém ficava sentado, tamanha era a angústia", conta o jogador Alexandre Oliveira, 31 anos. Capitão do time e torcedor declarado do Santa, ele é o retrato da tristeza que tomou conta do Arruda após o empate com o CSA: caiu em prantos no momento em que o time da cobra-coral deixou o campo e entrou em férias forçadas.

i136009.jpgA fase negra do Santa Cruz encontra paralelo em outro time do Recife: o Íbis Sport Club, que há um ano não disputa uma partida oficial. O Íbis ganhou fama nos anos 80 por ficar 55 jogos seguidos sem ganhar e figurar no livro dos recordes como o pior time do mundo. Este ano, pela primeira vez em 70 anos, o Íbis passa uma temporada sem disputar um torneio. "A gente não tem perdido porque também não tem jogado", resume Felipe Gomes, sobrinho-neto do fundador do clube. Como não possui sede nem campo, o Íbis necessitaria de R$ 20 mil mensais e um acordo com alguma cidade para disputar seus jogos