Bois, jumentos, bodes, poeira, cerrado, floresta, sol e muita lama foi o que os 330 pilotos que participaram da 16ª edição do enduro-rally Piocerá, realizado entre os dias 22 e 25 de janeiro, encontraram pelos 1.600 quilômetros de trilhas espalhadas pela região sul do Piauí e pelo sertão central cearense. Na competição de aventura, criada há 16 anos por dois amigos, o carioca radicado no Piauí, Ehrlich Cordão, e o cearense Galdino Gabriel, vale qualquer veículo de rodas: carros (4×4), motos, bicicletas e até quadriciclos. Apaixonados por velocidade, eles resolveram contar um pouco da história dos dois Estados por meio do esporte. “A competição passa por várias cidades conhecidas e outras nem tanto. Nosso objetivo é mostrar o que muita gente nem sabe que existe por essas regiões”, afirma Cordão.
A história começa a ser contada já no nome, curioso, dado ao evento.

Piocerá e Cerapió. É que na fronteira dos dois Estados existe uma área de litígio que até hoje não tem dono certo. Para não agravar mais a rixa secular ficou estabelecido que a disputa chamaria Piocerá quando a competição acontecesse do Piauí para o Ceará e Cerapió quando a prova fizesse o percurso inverso. Apesar da sonoridade pessimista, a experiência deu certo. Hoje, é considerada a maior prova de regularidade (na qual os veículos circulam com velocidade controlada) em distancia do País. “Não é apenas uma competição radical, é também uma boa oportunidade para se fazer novos amigos. Todo esse clima deixa as pessoas mais solidárias”, acredita Riamburgo Ximenes, vencedor da prova na categoria especial carro 4×4.

Este ano a competição seguiu um roteiro difícil, porém, interessante na opinião dos pilotos. Eles passaram por cidades como Juazeiro do Norte (CE), conhecida nacionalmente como a terra do Padre Cícero e um dos maiores centros de romarias do Brasil. Além do município de Quixeramobim, cidade onde nasceu Antônio Conselheiro, líder da Guerra de Canudos. Mas a maior surpresa foi encontrar no meio do sertão cearense um oásis. Trata-se de uma área de preservação ambiental conhecida como Maciço do Baturité, localizada a 100 quilômetros de Fortaleza. O lugar em nada lembra o clima predominantemente quente daquela região. Lá, a temperatura não ultrapassa os 22º graus no verão e no período das chuvas atinge 16º graus. São 32,6 mil hectares de Mata Atlântica. “Mesmo competindo não dá para passar despercebida tanta beleza. Pelo menos uma olhada rápida a gente dá”, afirma o piloto de motocross Sandro Hoffmann, campeão brasileiro de regularidade e vencedor da Piocerá 2003, na categoria master.

Mas não são apenas os participantes da competição que aproveitam o momento para conhecer novos lugares. Por onde passam os competidores viram atração do dia. As pessoas se aglomeram nas ruas, calçadas e praças para aplaudir os aventureiros do rally. Até mesmo quem está a caminho da roça pára para dar uma espiada no movimento. Montado em seu jumento o agricultor João Pereira os Santos, 73 anos, parece assustado com tanto correria. “Vocês sabem o que está acontecendo acolá na estrada? Acordei com um zumbido forte e meu vizinho me disse que tinha um bocado de carro e moto viajando por dentro do mato. Esse povo está com o juízo fraco?”, pergunta desconfiado o agricultor João Pereira dos Santos, 73 anos, enquanto observa com espanto as manobras de carros e motos. O juízo pode ser fraco, mas a adrenalina corre forte nas veias dos pilotos.

VENCEDORES DO PIOCERÁ 2003

Carro 4×4 – categoria especial – Riamburgo Ximenes e Rogério Almeida
Moto – categoria Master – Sandro Hoffmann
Bike – categoria elite masculino – Mauricio José de Sousa – categoria elite feminino – Emannuele Trigueiro Gurgel