Cerca de 1,7 milhão de brasileiros é vítima de um desses problemas que não prejudicam diretamente a saúde, mas acabam com a qualidade de vida de qualquer um. Eles sofrem com suor excessivo nas mãos, axilas, nos pés, no rosto e no couro cabeludo. É a hiperidrose. Por causa disso, passam por constrangimentos. Muitos têm vergonha, por exemplo, de cumprimentar outras pessoas porque a mão pinga de suor. Outros, no caixa do supermercado, temem até ser confundidos com ladrões, uma vez que suam tanto na hora de assinar o cheque que parecem estar cometendo um delito. O medo de viver essas situações pode levar a um isolamento progressivo, resultando inclusive em depressão.

A hiperidrose é uma disfunção do sistema nervoso autônomo, associado a funções involuntárias, como o ritmo da respiração e dos batimentos cardíacos. Em condições normais, o sistema envia ordens para que as glândulas sudoríparas produzam suor quando o corpo precisa perder calor. Por alguma razão ainda não conhecida, nas pessoas com hiperidrose essa estimulação ocorre de maneira exagerada e independe da temperatura corporal.

Em geral, esses indivíduos passam muito tempo procurando ajuda, muitas vezes sem encontrá-la de maneira correta. Como é comum confundir o problema com algo associado a um desequilíbrio emocional, perambulam em consultórios psicológicos, psiquiatras ou se submetem a variadas simpatias. Há ainda os tratamentos paliativos, como a aplicação da toxina botulínica, o famoso botox. A substância paralisa o nervo pelo qual os estímulos exagerados são transmitidos para as glândulas sudoríparas. Mas o efeito dura até seis meses. A solução definitiva é impedir de vez a transmissão dos sinais. Isso é feito por meio de uma cirurgia chamada simpatectomia, realizada para desativar o nervo responsável pela comunicação entre o sistema nervoso autônomo e as glândulas. O procedimento é relativamente simples. Cortes são feitos no tórax (um abaixo das mamas e outro nas axilas). Eles têm diâmetro pequeno, suficiente apenas para a passagem de finas cânulas que levam instrumentos e uma minicâmera (as imagens são enviadas para uma tela, onde o cirurgião pode ver o interior do organismo).

Em média, a intervenção dura 40 minutos e, na grande maioria dos casos, resolve com sucesso o suor excessivo na face, axila e nas mãos. “Nos pés os resultados também são bons”, informa o cirurgião João Bosco Duarte, de Belo Horizonte, especialista no assunto. Segundo o médico José Milanez de Campos, de São Paulo, outro conhecedor do tema, o suor nos pés pode melhorar em até 70% dos casos. Isso porque há outro nervo envolvido, que passa pela região lombar e envia os sinais para essa área. Para que o resultado fosse 100%, seria necessária a realização de uma cirurgia também nessa rede nervosa, o que pode desequilibrar o sistema de sudorese e gerar o que os especialistas chamam de hiperidrose compensatória. Ou seja, barriga e costas seriam os únicos lugares a transpirar – e certamente em excesso para que o corpo pudesse controlar a temperatura.

Para quem se livrou do problema, a sensação é de renascimento. “Falo para todos que nasci de novo depois da operação. Passei por situações terríveis, de extremo constrangimento, por causa do suor”, conta Regina Deiehl, 34 anos, de São Paulo. A vida com hiperidrose foi tão dura
que ela escreveu um livro sobre o assunto. Intitulada Suando em bicas, o constrangimento de uma doença chamada hiperidrose, será lançada
em abril. Hoje, Regina delicia-se com oportunidades que qualquer um acharia banais. Usar sandálias e chinelos, por exemplo. “Não conseguia. Meus pés escorregavam”, lembra ela, feliz da vida com os novos modelitos que agora pode calçar.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias