Ao desembarcar em um dos 115 aeroportos ou 14 portos dos Estados Unidos, o viajante estrangeiro é fichado. Uma câmera digital registra sua foto, as impressões digitais são escaneadas e, com alguns dados coletados rapidamente, sua identidade é checada numa lista de suspeitos de terrorismo do FBI. Se o nome do viajante constar dessa lista, ele é imediatamente levado pelos agentes federais americanos para ser interrogado. Estão isentos deste polêmico procedimento de controle de identidade de estrangeiros, chamado de US Visit e instaurado na segunda-feira 5, os cidadãos de 28 países, entre eles Canadá, Irlanda, Japão, Austrália e membros da União Européia. Esses países terão que prover até outubro os “passaportes biométricos” com microchips e impressões digitais do portador. Depois do 11 de setembro, a segurança na terra do Tio Sam acirrou-se muito e promete aumentar. Na primeira meia hora de adoção dessa nova medida, foram fichados mais de 27 mil estrangeiros. Em um ano, serão 24 milhões de pessoas obrigadas à submissão desse controle, que pode ainda ser adotado pela União Européia. O Brasil retaliou a medida repetindo o mesmo sistema no País.

A irritação não é apenas na chegada ao território americano, mas
também com os cancelamentos de vôos que suspostamente estão sendo ameaçados de ataques terroristas. O vôo 223, da British Airways, decolou de Washington rumo a Londres no sábado 3 depois de dois dias em solo esperando autorização. A Casa Branca quer que algumas companhias aéreas internacionais tenham seguranças armados em suas aeronaves. O governo americano também estaria cogitando de proibir passageiros de fazer filas para usar banheiros de aviões. Alguns países, como a Tailândia, se recusam a adotar tais medidas. Para o especialista em segurança internacional da Fundação Pacífico-Asiática, M.J. Gohel, mesmo com todos esses regulamentos continuam os riscos de ataques terroristas. Gohel lembra que o perfil dos terroristas do 11 de setembro era de “jovens de boas famílias, educados e sem passagem pela polícia”.

O programa US Visit não é apenas para combater o terrorismo, mas principalmente para identificar quem tenta entrar ilegalmente nos EUA ou os que possuem uma ficha suja em seu país de origem. Mas, em ano eleitoral, a Casa Branca dá uma no cravo, outra na ferradura. Dois dias depois que o sistema de identificação foi implementado, o presidente George W. Bush anunciou um novo plano para os oito milhões de imigrantes ilegais nos EUA. De olho no eleitorado latino, que representa 12% do total, Bush lançou a idéia, que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso, de conceder um visto temporário de três anos aos imigrantes ilegais que provarem vínculo empregatício, com direito à renovação de mais três anos. Para o visto sair é necessário o empregador demonstrar que cidadãos americanos não estão interessados em realizar o trabalho do imigrante ilegal. A regularização do trabalho dos imigrantes poderá render à economia americana porque eles passariam a recolher impostos. Os trabalhadores também estariam autorizados a enviar remessas de dinheiro para familiares em seus países. Em 2003, foram US$ 33 bilhões. Mas, encerrado o prazo de três anos e caso não consiga obter um visto de residência permanente, o imigrante será obrigado a retornar a seu país. E quem perder o emprego também não tem garantia de ficar nos EUA. Ou seja, regulariza-se a situação do imigrante temporário, mas diminui a possibilidade de ele permanecer no país. “A noção de que no final desse processo venha um green-card é uma ilusão”, afirmou Cecilia Muñoz, vice-presidente do Conselho Nacional La Raza – organização que advoga em favor dos imigrantes.

Deportação – A reforma imigratória de Bush descontenta gregos e troianos. Os republicanos conservadores dizem que ela poderá ameaçar os trabalhadores americanos, enquanto os democratas acreditam que é muito pouco. “Com esta proposta, muitas pessoas estão descontentes”, afirma o especialista Luís de Sipio, do Instituto de Análise Política Tomas Rivera. “Ela não dá uma solução para todos os imigrantes ilegais que vivem no país e decepcionará os latinos democratas. E também enfurecerá os republicanos conservadores, que se opõem a dar vistos a quem é contrário às leis de imigração. Não passa de uma proposta simbólica, fruto de um ano eleitoral”, disse ele. De 50% a 70% dos sem-documentos nos EUA são mexicanos. Os brasileiros em situação ilegal podem chegar a dez mil. No Texas, 70 brasileiros estão detidos em uma prisão porque tentaram entrar ilegalmente no país. Alguns deles, a maior parte dos Estados de Minas Gerais e Goiás, aguardam a deportação, que poderá ser coletiva e acontecer ainda em janeiro. Uma fonte do Itamaraty disse a ISTOÉ que os governos americano e brasileiro negociam uma saída para este caso, mas avisa que algumas levas de deportação de brasileiros já são esperadas.