Lutar duas ou três vezes para ganhar dinheiro, enfrentar o campeão dos leves da Associação Mundial de Boxe (AMB) para tentar unificar o título da categoria e encarar, num combate milionário em plena reta final de carreira, o americano Floyd Maywheather, dono do cinturão do Conselho Mundial de Boxe (CMB) e um dos maiores boxeadores da atualidade. São esses os planos do baiano Acelino Freitas, o Popó, 28 anos, que, no domingo 4, ao vencer por pontos (115/108, 116/107 e 116/107) o uzbeque naturalizado alemão Artur Grigorian, 36, tornou-se o segundo pugilista brasileiro a conquistar títulos mundiais em duas categorias do boxe. A vitória rendeu a Popó o título dos leves pela Organização Mundial de Boxe (OMB). Atualmente, o lutador tem também os cinturões dos superpenas da OMB e da Associação Mundial de Boxe (AMB). Mas terá que devolvê-los, pois decidiu seguir carreira apenas entre os leves. O primeiro a atingir o feito foi Éder Jofre, nos galos em 1960 e nos penas em 1973. Popó deverá escolher uma rede de tevê para transmitir seus combates nos Estados Unidos. Um canal de tribos indígenas americanas, o Showtime, que transmitiu suas últimas seis lutas, e a HBO disputam o passe. As chances maiores são da HBO. Num combate médio, a bolsa e as cotas pagas pelas tevês americana e brasileira podem render entre US$ 250 mil e U$$ 400 mil. Na entrevista, concedida na quinta-feira 8, em São Paulo, o lutador mostrou-se feliz por ter reatado o casamento com a empresária Eliane e afirmou que, no esporte, “está acima de todo mundo no Brasil”.

ISTOÉ – Você está fora dos superpenas?
Acelino Popó Freitas –
Sim. Vou entregar os títulos e devolver os cinturões de superpernas da AMB e da OMB, como mandam os regulamentos. Será mais confortável para mim. Costumo atingir 67, 68 quilos entre uma luta e outra. Na véspera, para baixar até os 59 quilos, era sempre um tormento. Como vocês sabem, gosto de comer bem e não dispenso a feijoada e a comida baiana da minha mãe. Daqui para a frente, vou precisar emagrecer um pouco menos. Na categoria leve, pode-se pesar até 61,6 quilos. O rigor da dieta, pelo menos, será menor.

ISTOÉ – A luta contra Grigorian foi a mais difícil de sua carreira?
Popó –
Não. Foi duro, mas controlei as coisas o tempo todo. A pegada da esquerda do Grigorian é forte. Por isso, girei muito para a direita. Além disso, conseguir encaixar bons cruzados de esquerda mesmo rodando para a direita, o que é bem difícil.

ISTOÉ – Quais são os seus planos para 2004?
Popó –
Pretendo lutar duas vezes, uma em março ou abril e outra no segundo semestre. Minha meta é unificar os títulos de leves da OMB e da AMB, como fiz nos superpenas. Por isso, uma dessas lutas será contra o campeão pela AMB. Hoje, é o romeno Leonard Dorrin. Se for ele até o dia do combate, não será fácil. O cara está invicto há 22 lutas.

ISTOÉ – Você foi para a mesma categoria do americano Floyd Maywheather. Sempre admitiu o desejo de enfrentá-lo. Depois
de Dorrin, será a vez dele?
Popó –
Não sou o único a querer. Hoje, o Maywheather também quer lutar comigo. Não sei se será imediatamente depois da luta pela unificação. Até o final da carreira, daqui a dois ou três anos, no máximo, penso em fazer outras lutas com bons contratos, bolsas e, se possível, patrocínios. Preciso ganhar dinheiro. Ajudo a sustentar mãe, cinco irmãos, alguns sobrinhos, enfim, uma boa parte da família. Só netos, minha mãe tem 20. Muitos não acreditam, mas não tenho patrocínio.

ISTOÉ – Maywheather ameaça desembarcar na superleve (até 63,5 quilos). Se ele for antes de vocês
lutarem, você vai junto?
Popó –
Não. Seria falta de inteligência. Nos superleves, os caras chegam a pesar até 75 quilos na fase de preparação. Emagrecem para a pesagem, feita 24 horas antes da luta e, até subirem no ringue, engordam três, quatro quilos, às vezes mais. Eu não recupero dois quilos. Iniciam com essa vantagem. Como sou mais baixo do que a grande maioria deles, a coisa fica ainda pior. Vou aposentar nos leves.

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ISTOÉ – Éder Jofre disse que você ainda precisa evoluir muito e corrigir vários pontos fracos. Isso o incomodou?
Popó –
Respeito demais o Éder Jofre. Tenho três títulos mundiais, e não dois. Não me igualei a ninguém. Eu estou acima de todo mundo no Brasil.

ISTOÉ – A sua mulher, Eliane, gritou durante toda a luta.
Agora, está aqui ao seu lado. O casamento está reatado?
Popó –

Sim, e estou feliz por isso. A Eliane me ajuda com empenho. Chega a fazer dieta comigo e deixa de comer coisas que eu gosto para não me despertar vontade. Isso até me emociona. Depois da luta, fomos para uma estação de esqui. Fazia frio, mas, entre nós, a coisa estava é quente, quente mesmo, derretendo gelo.


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