Frei Betto, assessor especial do presidente Lula e encarregado da mobilização social do Programa Fome Zero, voltou de malas cheias da Europa. Depois de um périplo por cidades italianas e espanholas, desembarcou no Brasil carregado de propostas de cooperação e financiamento externo (a fundo perdido) para o Fome Zero. Os projetos vão desde educação, saúde e saneamento até linhas de financiamento e microcrédito. “Foi uma maratona de 20 palestras, mas consegui mostrar aos europeus que o Fome Zero é muito mais
que um programa de distribuição de cartões para compra de
alimentos. É um verdadeiro programa de inserção social”, afirma. Ele defendeu o que chama de “globalização da sociedade em contraponto à globocolonização” e, com isso, abriu caminho para um fluxo de recursos da Europa para o Brasil. Depois do sucesso da viagem à Italía e à Espanha, Frei Betto volta à Europa em fevereiro, quando irá à Suíça e à Alemanha, a convite da Cáritas, falar do projeto.

A primeira visita, articulada por partidos, governantes estaduais e municipais dos dois países, além de ONGs e da Igreja Católica, visava estabelecer o título “cidades irmãs européias” das incluídas no Fome Zero. Os resultados surpreenderam. Na Itália, onde falou em Montemarciano, Quarrata, Módena (sede da Ferrari), Bérgamo e Nembro, além de confirmá-las como cidades irmãs que enviarão recursos regulares para as parceiras brasileiras, conseguiu que o Banco Ético (voltado para o social) garantisse recursos para microcréditos a no mínimo 20 mil famílias das regiões integrantes do Fome Zero. O modo como esse dinheiro – pelo menos 200 mil euros (cerca de R$ 750 mil) no primeiro momento – virá para o Brasil será definido pelo Banco Central, o que facilitará o estabelecimento de acordos semelhantes no futuro.

Além dessa injeção de recursos, o governo da Toscana (onde fica a maior parte das cidades visitadas) assumiu a construção de mil cisternas para armazenamento de água das chuvas em cidades do Fome Zero. O fornecimento de água limpa tem sido um dos aspectos-chave do programa. Em Guaribas (PI), primeira cidade a ser beneficiada pelo programa, morriam em média 59,9 crianças por mil nascidas. Desde abril, nenhum registro de óbito infantil foi feito devido ao tratamento da água. “Esse tipo de informação causa impacto e motiva os europeus a se engajarem no programa”, afirma Frei Betto. Na Espanha, onde falou em Madri, Barcelona, Tarragona e Oviedo, conseguiu que os governos locais encampem projetos completos dentro do programa, como saneamento, moradia, educação e saúde, por exemplo. Além de promover o Fome Zero, Frei Betto mantém sua produção literária. Lançou no fim do ano, pelas editoras Garamond e José Olympio, dois livros:

Gosto de uva

, uma coletânea de artigos, e

Comer como um frade

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, com receitas “à prova de erro”, afirma ele, que saboreia o sucesso não só do trabalho pelo Fome Zero, mas das vendas das suas duas mais recentes obras.


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