Acabou neste sábado 1º o mais longo e predatório ciclo de poder
de um restrito grupo político, entranhado desde a era FHC no governo federal. A notória cúpula
do PMDB, que já foi o maior e mais importante partido do País, espargiu influências, amarrou interesses e reproduziu-se como entidade
sobre as siglas que pululam na administração pública. O banho de 52 milhões de votos em Lula levou de enxurrada o comando do PMDB, que se desgrudou do poder a partir da eleição
das mesas do Congresso Nacional, neste sábado.

Michel Temer, Geddel Vieira Lima, Moreira Franco, Eliseu Padilha e Renan Calheiros, que monopolizaram a intimidade do Planalto e da Esplanada, perdem, agora, em graus diferentes, seus cargos, poderes e influências. Ninguém resiste a uma mudança tão brusca da maré política. Atropelado pelo acordo partidário, Temer continuará grudado à presidência do PMDB até o final de seu mandato, em setembro, mas sem a influência de antes. O deputado Geddel Vieira Lima, líder da bancada, chamado por Itamar Franco de “percevejo de gabinete”, foi fulminado em seu projeto de ganhar a primeira vice-presidência da Câmara. “Você sabe que o vice da mesa é o vice do Congresso? Quando você viajar, Sarney, é o Geddel que sentará na sua cadeira…”, advertiu o ex-governador Orestes Quércia, num jantar na noite de quarta-feira 29.

Aflorou ali a candidatura rebelde do paulista José Aristodemo Pinotti, que ganha de graça o empenho da bancada do PFL e do arquiinimigo de Geddel, Antônio Carlos Magalhães, e do nada isento Palácio do Planalto. “Esse Geddel já falou mal até da família do Lula. Ele deve ser derrotado”, sentenciou José Dirceu, ministro da Casa Civil, na quinta-feira 30, para um cacique pefelista. Eliseu Padilha, um dia o poderoso ministro dos Transportes que pavimentava apoios e tapava buracos de lealdade na base governista, reaparece como deputado eleito, mas desidratado de qualquer poder. Do quinteto original da cúpula, Renan é o sobrevivente mais rijo, resgatado pelo novo PMDB e pelo Planalto como espécime adaptado à nova ordem: militante do PCdoB, líder da collorida República de Alagoas e ajustado comandante do PMDB de FHC no Senado, ele ressuscita como líder do partido sob a estrela vermelha.

PROBLEMAS À VISTA

Depois de perder poder para os rebeldes de seu partido, o presidente do PMDB, Michel Temer,
terá problemas com o MP de Goiás devido a
uma briga por terras na Chapada dos Veadeiros.
O deputado, a agência de terras, donos de
cartórios e um grupo de fazendeiros terão que explicar como conseguiram títulos de enormes
áreas às margens do Parque Nacional dos Veadeiros. Ele invadiu mais de dois mil hectares de uma
fazenda declarada patrimônio natural pelo Ministério do Meio Ambiente. Antes, teve problemas com dois afilhados que presidiram a Docas em São Paulo, investigados pelo TCU por cometerem irregularidades à frente do órgão.