"Você é misterioso, o Gugu, meu gatinho, está te mandando um beijo. Você me acha gorda?
– Você não está muito gorda. Você tem que perder oito quilos bem lentamente, para não dar pelanca caída.”

O diálogo entre o cirurgião plástico Farah Jorge Farah, 53 anos – que matou e esquartejou a ex-amante Maria do Carmo Alves, 46, em sua clínica, na sexta-feira 24, em São Paulo –, e sua vítima está em uma das nove fitas gravadas apreendidas pela polícia no consultório de Farah. Na fita, Maria fala do marido, o porteiro João Augusto de Lima, com quem era casada há 19 anos, e convida o cirurgião para uma visita à sua casa.

A polícia ainda não sabe a data da conversa, mas acredita que seja recente. O cirurgião, segundo seus pais e amigos, estava sendo pressionado por Maria do Carmo para reatar o romance, iniciado há cinco anos. Anália e Jorge Farah, pais do médico, contaram à polícia que o namoro dos dois era tumultuado e Maria chegava a ligar mais de 50 vezes por dia. Maria insistia em visitá-lo e não se conformava com o fim do relacionamento. Para atraí-lo novamente, chegou a perder 15 quilos em uma dieta rigorosa ministrada pelo próprio amante.

O ponto final do romance foi uma tenebrosa lição de anatomia. O
corpo de Maria, dividido em nove partes, foi encontrado, dentro de
cinco sacos de lixo, no porta-malas do carro de Farah, pelo delegado Ítalo Miranda Júnior, no domingo 26. Para o delegado, tratava-se de
um remake do caso Chico Picadinho. Foi ele que prendeu o corretor
de imóveis Francisco Costa Rocha, que matou, da mesma forma que Farah, uma bailarina em 1966 e dez anos depois de cumprir a pena repetiu o ato e esquartejou uma prostituta.

Franzino e com câncer na região lombar, Farah anda apoiado numa bengala. Na noite do crime, jantou com os pais. A polícia acredita que ele retornou à clínica para dissecar o cadáver. “Ele cortou as pontas dos dedos e removeu peles do tórax e de parte do rosto da vítima para dificultar a identificação”, crê o delegado. No sábado, pela manhã, Farah transportou o corpo de Maria até o carro, com a ajuda de um parente que não sabia o que estava carregando. Em seguida, se internou em uma clínica de repouso, e no domingo avisou a família sobre o crime. Até agora, ele não contou como matou Maria. Limitou-se a dizer: “Ela estava com uma faca e avançou em minha direção. Tentei desarmá-la e a partir daí não me lembro de mais nada.” A faca não foi encontrada. O cirurgião divide cela com mais quatro presos, entre eles o pediatra Eugênio Chipkevitch, acusado de dopar e molestar crianças.