Durante 40 anos como crítico de arte, o também escritor e cineasta Olívio Tavares de Araújo sempre se recusou a editar uma reunião de textos de sua autoria anteriormente publicados na imprensa ou em abertura de livros e catálogos. Achava que estes escritos tinham cumprido sua missão no momento em que vieram à luz. Felizmente, as pessoas mudam. Ao lançar O olhar amoroso – textos sobre arte brasileira (Momesso Edições de Arte, 336 págs., R$ 76), Araújo acha que mesmo datadas – o que não é verdade, em se tratando de suas argutas análises – as idéias continuam valendo para outros momentos históricos. Existem ainda outras razões. “A decisão de
reeditá-los traduz o firme desejo de resgatar e documentar alguns momentos e fatos, como resistência a uma crítica e historiografia
parciais que, mais ou menos nos últimos 20 anos, se vêm instalando
na arte brasileira”, escreve ele na introdução.

Araújo refere-se a um tipo de crítica cifrada, obscura e arrogante, que se coloca acima do leitor. “Escrever difícil não é difícil. O grande desafio é ser claro”, adverte. Com seu estilo direto, Araújo passa em revista a obra dos gigantes Iberê Camargo, Alfredo Volpi, Emiliano Di Cavalcanti, Alberto da Veiga Guignard, Cândido Portinari e José Pancetti. Também se detém em nomes consagrados, como Tomie Ohtake, Arcângelo Ianelli e Francisco Brennand, sem deixar de investir nos novos talentos de Jair Glass e Tânia Queiroz. Mas é nos textos mais caudalosos, entre eles os dedicados a Volpi, Guignard e Portinari que Araújo revela por inteiro o seu método crítico ao conjugar obra, biografia e refinado pensamento estético na compreensão do artista em pauta.