Repórteres precisam ter
muita curiosidade, boas fontes, perseverança na busca de “furos” jornalísticos e um pouco de sorte. José Roberto de Alencar reúne
estas qualidades, mas diz ter
muito mais sorte do que juízo.
Afinal, curiosidade em excesso,
às vezes, atrai desgraças. Certa
vez, a bordo de um helicóptero
para fazer uma matéria sobre plataformas submarinas da
Petrobras, na Bacia de Campos (RJ), Alencar – entediado com a paisagem marítima – perguntou ao piloto a função de determinado pino localizado ao lado do manche. No entanto, ao apontar para o botão, acionou o salva-vidas inflável
do helicóptero, fazendo o aparelho balançar violentamente, perder
altura e, finalmente, aos trancos e barrancos, pousar no mar.

Esta e outras histórias de bastidores de reportagens estão no divertidíssimo Muita sorte & pouco juízo (Ateliê Editorial, 190 pág.,
R$ 20). Concluído depois de muita pressão de amigos e colegas, o livro é uma aula de reportagem de um jornalista em tempo integral, capaz de arriscar a vida por uma boa matéria, pedir o boné quando sente que está sendo mal aproveitado profissionalmente ou simplesmente cavar pautas com lances de ousadia iconoclasta. Certa vez, um chefe o mandou à merda. Ao que, marotamente, Alencar respondeu: “A administração me informou que não há permuta de passagem aérea para a merda. Posso ir para Portugal?” A gaiatice lhe valeu a viagem que, a princípio sem pauta, rendeu matérias originais sobre Amália Rodrigues, azeite, doces gemados e cortiça. Muita sorte & pouco juízo é uma prova cabal de que manuais burocráticos de redação não substituem a boa e velha reportagem.