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"Acho a discussão válida, mas estou ficando quieto
esses dias por opção minha. Deixa essa onda passar"

Rafinha Bastos

Reza a sabedoria popular que errar é humano, mas insistir no erro é burrice. Parece que foi este o caminho escolhido pelo humorista Rafinha Bastos, 34 anos, apresentador do “CQC”, programa de jornalismo e humor da Rede Bandeirantes, que vai ao ar às segundas-feiras. Depois de tomar três advertências formais da cúpula da emissora por abusos em piadas excessivamente agressivas, Rafinha errou de novo. Num dos últimos programas de setembro, na bancada do “CQC”, o âncora Marcelo Tas comentou como a cantora Wanessa Camargo, casada com o empresário Marcus Buaiz, estava bonita grávida. Rafinha emendou: “Comeria ela e o bebê.” A piada pegou mal, e o humorista foi suspenso por pelo menos duas semanas da atração.

Eleito personalidade mais influente do Twitter pelo jornal americano “The New York Times” – tem um notável contingente de 3,2 milhões de seguidores –, Rafinha dá a impressão de que se per­deu em sua arrogância. De comediante badalado pode virar o humorista que deu errado. Para alguém que vive da imagem, a linha é tênue. “Humor é andar no fio da navalha. Você erra um pouquinho a mão e vira baixaria”, diz José Simão, colunista do jornal “Folha de S.Paulo”, há 30 anos no ramo. “Dá para ser politicamente incorreto sem ser preconceituoso e burro.”

Esse tipo de escândalo costuma doer no bolso. “Os patrocinadores tendem a se afastar do foco da polêmica o mais rápido possível”, diz Flávio Rezende, diretor nacional de mídia da agência de propaganda DPZ e fã de Rafinha. “Ninguém espera para ver o que acontece, é muito arriscado.” No caso, a Bandeirantes não perdeu verbas publicitárias. O mesmo não se pode dizer do humorista. Em artigo do dia 4 de outubro, o colunista do UOL Ricardo Feltrin disse que Rafinha perdeu pelo menos sete contratos de palestra e presença remunerada desde a piada envolvendo Wanessa. Rafinha não tem patrocinadores exclusivos, mas os compartilha com o resto da bancada do CQC. Lá, o show continua. “Elenco, equipe e direção seguem unidos na produção do programa”, garante Marcelo Mainardi, vice-presidente em exercício e diretor-executivo comercial da Band. O programa do dia 3 de outubro registrou cinco pontos de média de audiência e nenhum patrocinador retirou apoio.

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DIVISÃO
Marcelo Tas (centro) e Marco Luque (à dir.) criticaram a piada infeliz de Rafinha (à esq.)

Rafinha, que continua no ar com seu outro programa semanal, “A Liga”, também na Band, passou a semana tentando fazer piada de si próprio. Em conversa rápida com ISTOÉ dois dias depois de ter sido suspenso, o humorista se limitou a dizer que vê como válida a discussão criada em torno de sua piada. “Não fui proibido de falar”, garantiu. “Mas estou ficando quieto esses dias por opção minha. Deixa essa onda passar.” Ele tem recorrido ao Twitter para se manifestar. Na segunda-feira 3, enquanto o “CQC” ia ao ar com Mônica Iozzi como sua substituta, Rafinha postou fotos em que aparece rodeado de modelos com a legenda “Que noite triste pra mim.” Dois dias depois, colocou na internet um vídeo no qual aparece em uma churrascaria negando cortes como baby beef e fraldinha. Pouco depois postou um link com uma entrevista que respondeu com trechos de uma receita de bolo.

Não são exatamente demonstrações públicas de arrependimento. “Como ele vai reagir às críticas será definidor para o futuro dele”, diz Adriana Gomes, coordenadora do Centro de Carreiras da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Na opinião de Adriana, é preciso reconhecer o erro e pedir desculpas, além de entender que o comportamento na tevê não pode ser o mesmo dos palcos e do Twitter. “Quem cuida da carreira dele, da marca que ele é e do posicionamento dessa marca precisa reavaliar os rumos.” Para alguém que ganhou fama com um espetáculo chamado “A arte do insulto”, talvez seja pedir demais.  

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