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META
Depois da conquista do primeiro título mundial, a remadora
Fabiana Beltrame busca o inédito pódio no Pan de Guadalajara

O Brasil tem se acostumado a ver suas atletas brilharem. Foi assim na última edição dos Jogos Olímpicos realizada em Pequim, em 2008, quando Maurren Maggi se tornou a primeira brasileira a ganhar uma medalha de ouro em uma modalidade individual, o salto em distância. Dias antes, a judoca Ketleyn Quadros, com um bronze, havia sido a pioneira a subir no pódio olímpico em esporte individual. Mais recentemente, outras duas brasileiras, Fabiana Murer e Fabiana Beltrame, escreveram seus nomes na história ao se tornarem campeãs mundiais – respectivamente no salto com vara e no remo. As mulheres, não só as brasileiras, têm evoluído a passos mais largos que os homens no terreno esportivo. E devem continuar assim porque, diferentemente deles, tiveram de lutar pelo direito de competir e foram proibidas de praticar algumas modalidades por conta de amarras ideológicas, biológicas, políticas e sociais. Tais fatos produziram um déficit no desenvolvimento motor delas, que vêm obtendo resultados expressivos à medida que o tempo de prática aumenta.

A modalidade de Murer, para citar um exemplo, passou a fazer parte do programa olímpico feminino apenas em 2000, a partir dos Jogos de Sydney. Já os homens saltam com vara desde a primeira edição do evento, em 1896. Por praticarem em alto nível por bem menos tempo e com uma larga estrada de aprimoramento da habilidade a percorrer, não é de estranhar que a curva da evolução das marcas femininas ultimamente seja mais acentuada que a masculina. Isso fica claro ao se comparar as melhores marcas da modalidade. Enquanto o recorde mundial do ucraniano Sergey Bubka, que ultrapassou o sarrafo colocado a uma altura de 6,14 metros, não é superado há 17 anos, o melhor resultado do mundo entre elas – 5,06 metros registrado pela russa Yelena Isinbayeva – representa uma evolução de 45 centímetros desde 2000, quando o esporte ganhou o selo olímpico. “A gente agora treina igual aos homens”, diz Fabiana Murer, que irá saltar no Pan-Americano de Guadalajara, neste mês. “Aumentou também o número de praticantes do sexo feminino e isso traz a evolução.”
Katia Rubio, pro­fessora da Escola de Edu­cação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP), reforça que as mulheres estão aperfeiçoando a técnica em muitas modalidades e, ainda assim, os recordes femininos são quebrados com mais frequência do que o verificado entre os homens. O boxe, por exemplo, será disputado pela primeira vez por elas em uma Olimpíada, no ano que vem, na edição de Londres. No judô e no futebol, as moças só passaram a competir em nível olímpico em 1992 e 1996. Portanto, é como se eles estivessem perto do platô de desempenho enquanto as atletas estão ainda no meio do percurso.

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LACUNA
As provas do salto com vara feminino (na foto, Fabiana Murer) só
foram aceitas a partir da Olimpíada de 2000. Essa e outras histórias
estão em “As Mulheres e o Esporte Olímpico Brasileiro” (abaixo)

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No Brasil, as primeiras medalhas olímpicas do feminino foram conquistadas em 1996, nos Jogos de Atlanta, 64 anos depois de uma brasileira estrear em Olimpíada – mérito que coube à nadadora Maria Lenk, em Los Angeles, em 1932. A professora Katia, da USP, investigou os porquês desse hiato. Eles estão compilados em “As Mulheres e o Esporte Olímpico Brasileiro”, publicado pela Casa do Psicólogo em setembro. Uma das razões, segundo ela, foi a intervenção feita pelo governo federal, que, por meio de um decreto em 1941, proibiu as brasileiras de praticar “desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. Em 1965, seguindo essa linha, o extinto Conselho Nacional de Desportos as proibiu de praticar, em aulas de educação física, “lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo aquático, rúgbi, halterofilismo e beisebol”.

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A lei só seria revogada em 1979. “A falta de acesso às práticas esportivas pelas mulheres no País retardou o processo de desenvolvimento do esporte olímpico feminino”, diz Katia. A recém-campeã mundial Fabiana Beltrame sentiu na pele esse atraso. Foi somente neste ano que ela teve a oportunidade de desfrutar de um tipo de intercâmbio que influenciou diretamente na conquista do Mundial. “Passei a ser treinada por um francês. A escola europeia é a melhor do mundo e minha técnica melhorou muito”, diz. No Pan de Guadalajara, ela tentará subir ao pódio, resultado jamais alcançado por uma remadora brasileira. Se nada sair do roteiro, terá assinado mais uma conquista inédita para as mulheres.  

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