"Nós matamos. Eu e a pessoa que está dentro de mim.” Assim começa o depoimento do paranaense Adriano da Silva, 25 anos, que confessou na terça-feira 6 ter matado 12 crianças com idades entre 8 e 13 anos em diferentes cidades do Rio Grande do Sul. No depoimento, que durou 20 horas, o serial killer descreve os crimes com frieza espantosa. Ele contou os assassinatos com todos os detalhes, como datas, locais e até as roupas que os meninos usavam quando foram mortos. E para provar a veracidade de sua confissão, indicou para os policiais o local onde enterrou o corpo de Douglas de Oliveira Haas, dez anos, na cidade de Soledade. O garoto estava desaparecido desde abril do ano passado. Durante a confissão, ouvida por dois promotores, quatro delegados e um advogado, Adriano, que vivia de bicos, ainda ligou para sua mãe, que vive no Paraná, e admitiu: “Errei, mãe. Foi fraqueza.”

O comportamento “frio e detalhista” de Adriano durante a confissão estarreceu seus interlocutores. Ele não pareceu arrependido e disse que matou porque foi comandado por vozes de “alguém que vive dentro dele”. De acordo com especialistas, essas características indicam que ele sofre de algum tipo de psicose. Mas o criminoso, que está detido na Penitenciária de Charqueadas (cerca de 60 quilômetros de Porto Alegre), ainda não passou pelos exames que podem identificar de que tipo de patologia é vítima. Adriano está preso em cela separada dos demais detentos para evitar agressões. Esse foi seu único pedido às autoridades que ouviram seu longo e tenebroso depoimento.

Todos os crimes confessados foram cometidos em 2002 e 2003 e os corpos foram encontrados entre maio e novembro do ano passado, nas cidades de Soledade, Passo Fundo, Sananduva e Lagoa Vermelha, norte do Rio Grande do Sul. Para atrair suas vítimas – geralmente vendedores de doces e engraxates –, Adriano fazia promessas e pedia para os garotos o acompanharem. Quando chegavam a lugares menos movimentados, ele rendia os meninos com golpes de artes marciais e os matava por asfixia. Segundo ele, 11 dos 12 garotos foram estrangulados com um fio de náilon. O criminoso confesso ainda abusou sexualmente de três menores, depois de mortos. Os corpos da maioria das vítimas ficaram meses desaparecidos. Apesar da sucessão de crimes com a mesma tipologia, a polícia não achou conexão imediata entre eles. Chegou a prender 11 pessoas como suspeitas de alguns dos crimes. Todos os inquéritos – muitos já encerrados – foram reabertos. A série de assassinatos poderia estar elucidada há mais tempo se as polícias civis do Rio Grande do Sul e do Paraná não tivessem cometidos alguns erros.

Erro policial – Adriano da Silva foi condenado a 27 anos de prisão em 2001 por assassinato, roubo e ocultação de cadáver. Ele matou e roubou a carteira de um taxista. Foi preso em União da Vitória, no Paraná. Depois de quatro meses fugiu e não foi recapturado. Em abril de 2002 foi expedido um mandado de prisão contra Adriano, que continuou livre. Em novembro de 2003, o policial aposentado Gideon Dornelles desconfiou que Adriano era o assassino de seu neto, Leonardo Dornelles, oito anos. O menino foi visto pela última vez ao lado de seu algoz na saída de um fliperama em Passo Fundo (RS) no dia 31 de outubro. Com faca em punho, Gideon abordou Adriano e o levou à delegacia da cidade, onde ficou detido por algumas horas. Só foi liberado porque seus dados não constavam do Cadastro Nacional de Criminosos, o Infoseg. Isso porque a polícia do Paraná retirou as informações do sistema alegando que usavam um programa próprio e o nacional não era confiável.

Adriano só foi preso na terça-feira 6 em operação conjunta das Polícias Militar e Civil no município de Maximiliano de Almeida (RS). Ele era procurado desde a manhã de sábado 3 por um efetivo da Brigada Militar. No depoimento, Adriano chegou a fazer ironia com a polícia, insinuando que “o jogo só acabaria quando ele quisesse”. E completou: “Tem gente inocente presa.” Mas a polícia gaúcha agora está cautelosa. Fábio Medina Osório, secretário-adjunto de Justiça e Segurança do Estado, diz que apenas a confissão de Adriano não é suficiente para condená-lo.