O ximango, ave da família dos falcões e comum no pampa gaúcho, está deixando
de ser uma exclusividade dos céus do Rio Grande do Sul. Modelo de maior sucesso
da fabricante de aviões Aeromot, de Porto Alegre, o motoplanador Ximango já está voando em 15 países e, agora, se prepara para entrar em território chinês. O acordo que está prestes a ser fechado com a
estatal China National Guizhow Aviation Industry prevê a fabricação do modelo brasileiro em território chinês. Um quarto
das peças da versão oriental da aeronave será feito na fábrica gaúcha.

“Nosso objetivo é abrir o imenso mercado do Extremo Oriente”, diz Cláudio Miguel Barreto Viana, presidente e fundador da Aeromot, que embarca para a cidade de Guizhow – localizada nos arredores da capital, Pequim – no dia 12 de fevereiro para fechar o contrato. “Já fizemos as tratativas preliminares e negociamos uma base financeira.
Só falta assinar a papelada”, diz o empresário.

A proposta da empresa gaúcha é de comercializar componentes e
peças metálicas e fornecer tecnologia para a montagem do Ximango chinês, além do envio de moldes, gabaritos e todo o ferramental especial necessário para a fabricação do motoplanador – tipo de aeronave que utiliza um motor próprio para decolar e ganhar altitude antes de planar solta. A primeira fase da parceria prevê o treinamento de 20 técnicos
e engenheiros chineses na linha de montagem da empresa, na capital gaúcha. Durante seis meses, eles irão participar de todas as fases
de montagem da aeronave. Também está previsto o acompanhamento
de cinco engenheiros brasileiros no começo da operação da fábrica chinesa. A meta, dentro de três anos, segundo Viana, é estar
produzindo 100 aeronaves por ano.

Se tudo correr como o previsto, o acordo poderá se transformar no principal negócio da empresa, que estima um faturamento, só no mercado chinês, superior a US$ 20 milhões no período de dez anos. A Aeromot receberia, além do valor das peças enviadas para a China, royalties sobre as vendas. “Só a China, que cresce quase 10% anualmente, tem potencial para adquirir cinco mil aviões por ano”, estima Viana. Não é à toa que a Embraer, a maior empresa do setor, fechou recentemente um contrato de parceria com a estatal chinesa Avic 2 para fabricação de jatos regionais naquele país. A Aeromot não quer ficar para trás.

Guri – Tanto que a companhia tem planos de dividir com os chineses
a produção de outros modelos de aviões, como um de quatro ou seis lugares e o Guri, um monomotor de asa baixa, adequado a missões
de treinamento básico de pilotos, mas que também serve para lazer
e transporte de pessoas. A idéia, de acordo com Viana, é fabricar
em conjunto com os chineses aeronaves de pequeno porte para abastecer o mercado do Extremo Oriente.

Prestes a beijar o solo chinês, a Aeromot ainda comemora a vitória,
no ano passado, da concorrência internacional para a venda de 14 aeronaves à academia da Força Aérea Americana (Usafa, na sigla
em inglês). Na disputa, a empresa brasileira desbancou a Diamond, subsidiária da gigante canadense Bombardier, notória no Brasil pelas brigas comerciais que vem travando com a Embraer. O contrato,
estimado em US$ 2,5 milhões, está sendo cumprido dentro do prazo,
e, na semana passada, voaram para os EUA mais dois motoplanadores. Lá, a exemplo dos outros oito que já estão voando, eles receberão da Usafa a designação T-14, a primeira atribuída a um avião de fabricação brasileira pela Força Aérea Americana.

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Poltronas – Fundada em 1967 por Viana e um amigo, a fábrica da Aeromot em Porto Alegre tem capacidade para produzir entre 60 e 70 aviões por ano. Além da fabricação dos modelos Ximango, a empresa atua no ramo de manutenção e revisões de aeronaves no Sul do País. Produz ainda poltronas de aviões para a maioria dos modelos de jatos comerciais. Em 2002 o faturamento atingiu US$ 12 milhões – 95% das vendas foram para o mercado externo. Para este ano, a previsão é chegar aos US$ 15 milhões. O modelo Ximango, avaliado em US$ 140 mil, já soma 134 aeronaves vendidas em 15 países – 45 só nos Estados Unidos. No ano retrasado, o avião, considerado um planador de alta performance, acabou virando livro, depois de completar uma volta ao mundo, nas mãos do piloto suíço naturalizado brasileiro Gérard Moss. Hoje, 63 unidades voam no Brasil. “Aqui o Ximango faz sucesso entre ex-pilotos e profissionais liberais que usam o avião para o lazer e transporte”, diz o empresário. O objetivo é repetir o sucesso entre os chineses.

A VOLTA AO MUNDO EM 1OO DIAS

Foram precisos exatos 100 dias para o piloto suíço naturalizado brasileiro Gérard Moss completar a volta ao mundo a bordo de um motoplanador Ximango, o modelo que deverá ser fabricado na China. Antes de pousar
no Aeroclube do Brasil, no aeroporto de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, em 28
de setembro de 2001, Moss voou 55 mil quilômetros, tocou o solo de 30 países
e permaneceu mais de 370 horas no ar.
A única modificação feita no avião especialmente para a aventura foi o
aumento do tanque de combustível.

“É um avião único, seguro e muito econômico”, diz o piloto, que ganhou o título de aviador pioneiro da América Latina por ter dado uma volta completa no planeta em vôo solo nas asas de um motoplanador. A viagem foi registrada no livro Asas do vento e ganhou site na internet (www.asasdovento.com.br). Moss, que se prepara para uma nova aventura a bordo de um hidroavião, diz que o Ximango poderia ter outras aplicações no Brasil, como o controle de incêndios em áreas de florestas ou o patrulhamento de cidades. Uma das vantagens é o baixo custo de operação. “Um mês dos gastos da operação do dirigível utilizado para controlar a violência no Rio de Janeiro seria suficiente para dois anos de vôo com o Ximango”, compara.


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