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Quando tinha vinte e poucos anos, Oscar Maroni foi à Rua Augusta e levou uma prostituta para um hotel barato no centro da capital paulista. Enquanto a garota tomava banho em um banheiro apertado e mal-cheiroso, Maroni pensou por que o sexo precisava ser feito em um lugar tão horrível e não em uma casa bonita, limpa, cheia de bares e restaurantes. Foi assim que o hoje empresário de 60 anos afirma ter idealizado a boate Bahamas.

Por quase duas décadas, a casa funcionou na zona sul de São Paulo e rendeu lucros altíssimos ao empresário. Nesta sexta-feira (30), porém, a juíza Cristina Ribeiro Leite, da 5º Vara Criminal de São Paulo, assinou sentença que condena Maroni a onze anos e oito meses de prisão e deixou o empresário em choque.

Os crimes? Favorecimento à prostituição e manutenção de local destinado a encontros libidinosos. A sentença foi divulgada nesta segunda-feira (3) pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, Maroni afirma que entrará com recurso para anular a condenação. Para ele, a Justiça está avaliando "valores morais e não valores legais". O empresário nega que o Bahamas seja uma casa de prostituição pois, segundo ele, "não explora o ato sexual".

"É claro que eu tenho o conhecimento que muitas garotas de programa vão para lá e que as pessoas transam, mas o meu lucro não vem do sexo, vem do ingresso, da locação dos quartos, do bar, do restaurante e da sauna", diz Maroni. E completa: "Tenho o direito de manter o Bahamas em pleno funcionamento".
Confira os principais trechos da entrevista.

Como o senhor recebeu a sentença que o condena a mais de onze anos de prisão?
Soube ontem (terça-feira, 4) às 22h. Fiquei desesperado, sem saber o que fazer. Andei de um lado para o outro dentro do meu quarto, preocupado com o que falar para a minha família, principalmente para o meu pai, um senhor de 91 anos. Liguei para o meu advogado, que também não estava sabendo. Estou sem dormir, chateado, revoltadíssimo e indignado. Respeito a decisão da Justiça, mas não concordo. No meu ponto de vista, no do meu advogado e de grandes criminalistas que já me absolveram em outros seis ou oito processos nos últimos anos, tenho o direito de manter o Bahamas em pleno funcionamento.

O senhor tem o direito de recorrer da decisão em liberdade…
Sim, e vou recorrer. Essa semana, entrarei com um recurso em segunda instância para pedir a anulação dessa sentença. Como um cidadão que tem uma casa noturna, um balneário, um restaurante, é condenado a onze anos de cadeia enquanto vemos aí casos de estupro, assassinato e corrupção? Estou sendo julgado por valores morais e não por valores legais.

Então, na sua opinião, o Bahamas não é uma casa de prostituição?
Não. É um hotel balneário frequentado por homens, mulheres e casais que fodem, trocam experiência, inclusive espiritual. Uma vez tinha um padre lá no Bahamas, que era virgem, e foi lá e ficou conversando com as meninas. Normal… Ilegal não é manter a casa de prostituição, ilegal é quando você explora a prostituta, ou seja, tem participação no ato sexual da mulher.

E o Bahamas não faz isso?
No Bahamas, mulheres e homens pagam para entrar. É claro que eu tenho o conhecimento que muitas garotas de programa vão para lá e que as pessoas transam, mas o meu lucro não vem do sexo, vem do ingresso, da locação dos quartos, do bar, do restaurante e da sauna.

Você nunca cobrou uma parte do que as garotas de programa recebem no Bahamas?
Nada, nada, nada. Acredite nisso. A diferença é que, nas casas de massagem, por exemplo, o homem chega, vai para um quarto, levam para ele um caderno com fotos de mulheres, ele escolhe, a mulher entra no quarto, eles transam, ele sai e paga para a casa, que fica com metade e dá a outra metade para a mulher. Isso é uma casa de prostituição. O Bahamas não é isso, o Bahamas não é ilegal.

Mas existe sexo pago no Bahamas?
Existe, sim, sexo pago no Bahamas, mas não é ilícito, porque ilícito é quando a casa participa diretamente do ato sexual. Seria burrice, com a imprensa sempre em cima de mim, se eu lucrasse em cima do sexo das mulheres.
E quanto as mulheres ganhavam por mês no Bahamas?
De R$ 30 a R$ 40 mil por mês.

E por que o Bahamas foi considerado ilícito desta vez?
O Bahamas existe há 18 anos, é considerado um ambiente social. Considero que as pessoas têm que foder mais. A mulher precisa usar mais sua boceta – nunca use a palavra vulva, que acho horroroso -, e digo isso para meus filhos. Sexo é bom, é saudável. Meu pau serve para fazer xixi, mas também para dar amor, carinho e afeto, mas quando há preconceito, a sexualidade muda e a pessoa começa a conviver com um sentimento de culpa.

Então, na sua opinião, o Bahamas é julgado e o senhor condenado por preconceito?
Sim. Desde que isso começou, quando caiu o avião da TAM, em 2007, minha vida virou um inferno. Eu fiquei 63 dias preso (em setembro de 2007), a Prefeitura de São Paulo lacrou o Bahamas e eu vi minha dignidade parar na sarjeta. Pensei até em suicídio. Essa juíza (Cristina Ribeiro Leite, da 5º Vara Criminal de São Paulo) deu a sentença baseada em frases e depoimentos da Bruna Surfistinha que disse em seu livro, O Doce Veneno do Escorpião, que conheceu o Bahamas e que lá era tudo muito luxuoso e frequentando por prostitutas, mas que ela nunca tinha trabalhado lá porque a concorrência era forte.

E qual será o seu próximo passo?
Vou lutar pelos meus direitos de cidadão.

Para reabrir o Bahamas?
Primeiro vou recorrer, depois veremos…