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CAIXA FORTE Segundo a polícia, o destino do dinheiro era apontado pelo próprio Arruda

Apesar de o Superior Tribunal de Justiça haver determinado discrição absoluta, Brasília acordou na manhã da sextafeira 27 com o barulho de sirenes das viaturas da Polícia Federal dirigindo-se a residências e escritórios de secretários e assessores do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Também foram alvo da chamada Operação Caixa de Pandora diversos deputados aliados do governador na Câmara Distrital e empresários com contratos junto ao governo do DF. Não havia nenhum mandado de prisão a ser cumprido, mas ordens de busca e apreensão de documentos autorizadas pelo ministro do STJ Fernando Gonçalves no inquérito número 650 que tramita sob segredo de Justiça, comandado pela procuradora Raquel Dodge.

Trata-se de uma investigação que envolve o desvio de pelo menos R$ 600 mil que teriam sido arrecadados pelo governador e seriam distribuídos a parlamentares da base aliada. A origem da investida do Ministério Público e da Polícia Federal foi uma delação premiada promovida pelo ex-delegado da Polícia Civil Durval Barbosa, secretário de Assuntos Institucionais de Arruda e ex-braço direito do ex-governador Joaquim Roriz durante as quatro gestões em que esteve à frente do governo do Distrito Federal. Barbosa é acusado de corrupção em dezenas de processos que tramitam na Justiça de Brasília e antes mesmo de se tornar secretário de Arruda decidiu se valer do instituto da delação premiada para que não tivesse sua prisão preventiva decretada.

Diante disso, passou a gravar suas conversas e até a promover a filmagem de encontros com o governador e demais secretários, além de deputados e empresários ligados ao governo. Segundo documentos que constam no inquérito 650, Barbosa instalou no seu escritório câmeras de vídeo e escuta ambiente para flagrar a corrupção da qual ele participava. Um deles relata que na tarde de uma quinta-feira Barbosa sentou-se com o próprio Arruda e deu um ultimato: “Preciso assumir uma secretaria. Estou para ser preso a qualquer momento. O processo corre em primeira instância e um cargo no primeiro escalão do governo pode me ajudar com foro privilegiado”, disse o ex-delegado, segundo gravação em poder do Ministério Público.

“Estou surpreso. Não conheço o processo e vou ajudar a investigação”
Arruda, através de sua assessoria

O governador a princípio negou o pedido de Barbosa, mas foi colocado diante de um vídeo que o fez mudar de ideia. Já no governo, Barbosa, em parceria com a Polícia Federal e o Ministério Público, conseguiu fazer diversas outras gravações e filmagens. Numa das gravações, segundo relatado no inquérito, Barbosa discute com Arruda sobre o destino que seria dado a R$ 400 mil arrecadados de empresários que prestam serviços no Distrito Federal. Barbosa foi orientado a entregar o dinheiro ao secretário José Gerardo Maciel, chefe da Casa Civil de Arruda, que deveria passar o dinheiro para parlamentares da base goverrnista. Em outra gravação relatada nos documentos do STJ são discutidos os destinos de mais R$ 200 mil.

A investigação foi conduzida sob absoluto sigilo, mas em algum momento o governador ficou sabendo que no STJ seu governo estava na mira. Na segunda-feira 16, o próprio Arruda chegou a procurar o ministro Fernando Gonçalvez, mas não foi recebido. O presidente do Tribunal, César Asfor Rocha, também foi procurado, mas não detinha informações sobre o processo. Diante da pressão, o ministro conversou com a procuradora para concluir a investigação ainda este ano. Segundo agentes da PF ouvidos por ISTOÉ, até nos carros oficiais que servem ao governador foram instalados equipamentos de escuta. O inquérito da Operação Caixa de Pandora é dividido em quatro partes. Até agora só se tem conhecimento de uma delas.

A PF também preparou uma operação para flagrar Arruda, que, segundo as denúncias mostradas por Barbosa, receberia comissão de aproximadamente R$ 30 milhões em razão de contratos para as obras do metrô de Brasília. O pagamento seria feito no Rio de Janeiro, mas a informação teria vazado e o encontro não ocorreu.

Empresas de informática que prestam serviços a vários Estados também são alvo da procuradora. Barbosa atuou em vários governos do ex-governador Joaquim Roriz como o principal personagem de movimentação financeira e cargos na gestão do ex-governador e fazia os grandes negócios do setor de informática, com pagamento de propinas que superariam R$ 60 milhões. Barbosa responde por corrupção, formação de quadrilha e outros crimes num processo que se arrasta no Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Na sexta-feira 27, por intermédio de sua assessoria, o governador Arruda se disse surpreso com as investigações, afirmou que não conhece o inquérito e que está disposto a colaborar com a PF e o Ministério Publico.

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RELATÓRIO STJ autorizou a busca e apreensão em casas e escritórios de autoridades