Se as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti, o transmissor da dengue, não forem radicalizadas, em 2003 todo o Brasil poderá estar infestado pelo vírus do tipo 3, o que aumenta o risco de ocorrência da dengue hemorrágica, a forma mais grave da doença. O sinal de alerta foi dado após a recente descoberta da presença do vírus 3 na cidade de Nortelândia, no Mato Grosso. A identificação do agente no município mostra que ele está se espalhando pelo território brasileiro – já foi detectado em outros Estados. “O País está vivendo o que o Rio passou há um ano”, compara Jarbas Barbosa, diretor de Epidemiologia da Fundação Nacional de Saúde.

De fato, o vírus tipo 3 foi identificado há um ano no Rio. E o que preocupa os especialistas é que o Brasil viva em 2003 o que o Estado fluminense está sofrendo hoje. Ou seja, uma epidemia de dengue hemorrágica. O cenário é assustador. O número de mortes no Rio já ultrapassou as 24 ocorridas na epidemia de 1991, a pior até então. Até a quinta-feira 7, a dengue causou 27 mortes e 69.427 notificações, sendo 826 relativas a casos de dengue hemorrágica.

Por causa dessa situação, a neurose se espalha entre a população. No mercado, faltam repelentes, cujas vendas cresceram 25,2% este ano. Vizinhos brigam para destruir os focos e multidões se formam na caça ao mosquito. A psicóloga Edy Maria Oliveira virou uma guerreira após passar três semanas nocauteada pela dengue, que lhe roubou seis quilos. Diariamente, ela borrifa inseticida em seu apartamento em Ipanema e dorme sob o mosquiteiro. “Fiquei assim por sobrevivência. Cheguei perto da morte”, conta.

Visitantes tomam o mesmo cuidado. Para passar 11 dias no Brasil, o francês Charles Le Tertre, 52 anos, trouxe dois repelentes e um em forma de spray para borrifar na roupa. “O que mais me surpreendeu foi ver o governador Anthony Garotinho passeando em Paris (em janeiro) enquanto o Estado vivia essa calamidade”, critica Le Tertre. Mas o medo também multiplica a mobilização de pessoas, como a enfermeira Cristina Helcias, 45 anos. “Distribuo muitos panfletos orientando sobre a doença. É um alívio conscientizar as pessoas”,
diz. Além disso, cerca de 12 mil pessoas tinham prometido reforçar a batalha contra o mosquito no chamado Dia D de combate à dengue
(no sábado 9).

Como se não bastasse, surge mais um problema. As autoridades sanitárias têm dito que o Aedes só se prolifera em água limpa, mas pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco encontraram larvas em canaletas de favelas do Recife. O entomologista Anthonny Guimarães, da Fundação Oswaldo Cruz, explica que o mosquito pode botar ovos em lugares sujos, mas é um fenômeno raro. Por isso, ele acredita que são necessários mais estudos para que se justifiquem mudanças nas estratégias de combate aos criadouros mais conhecidos do inseto, ou seja, recipientes com água limpa.