A escultura de um globo metálico que enfeitava o jardim das torres do World Trade Center, em Nova York, foi recuperada dos escombros do atentado de 11 de setembro de 2001. A esfera, partida e um tanto amassada, foi plantada novamente no solo – desta vez num parque próximo de seu antigo endereço. Servirá como memorial às vítimas do pior atentado terrorista da história dos Estados Unidos. Será também um dos marcos da passagem dos seis meses dos dramáticos eventos que o presidente George W. Bush considerou como “um ato de guerra” contra seu país. O simbolismo, no entanto, empalidece diante do fato de que a guerra ainda não acabou: ao contrário, nunca esteve mais acirrada para Tio Sam. Na semana passada, as tropas americanas sofreram as mais pesadas baixas em cinco meses de campanha no Afeganistão contra as forças da al-Qaeda e do Taleban. Nove soldados americanos foram mortos e seis ficaram feridos em Gardez (Leste do país). Oito das vítimas morreram em consequência da derrubada de um helicóptero de transporte de tropas. E na quarta-feira 6 cinco soldados europeus – dois alemães e três dinamarqueses – morreram na capital Cabul quando tentavam desativar uma bomba que caiu no solo sem explodir. Em compensação, o Pentágono diz que 450 terroristas foram mortos e a soma dos feridos é ainda maior. Na operação chamada Anaconda, forças “aliadas” – afegãos, alemães, noruegueses, canadenses, dinamarqueses, ingleses e franceses, além de americanos – sitiaram cerca de 1.500 guerrilheiros da al-Qaeda e talebans. Uma alteração significativa no modus operandi dos combates, com a infantaria ganhando a preponderância que até agora era dos bombardeiros. O resultado é a carnificina da guerra à moda antiga.

O tenente-coronel J. Kennedy, do Pentágono, disse a ISTOÉ que a Operação Anaconda vinha sendo preparada há meses. Essa tem sido a resposta oficial do governo para as críticas de que as forças americanas foram pegas de surpresa numa região que continha mais inimigos do que se imaginava. “Nós sabíamos que havia um contingente de 1.500 homens da al-Qaeda nas montanhas da província de Paktia e que entre eles estão vários comandantes da organização. A suspeita é de que o sheik Omar e até mesmo Osama Bin Laden podem estar entre eles”, diz Kennedy. Mas o fantasma da Somália de 1993 persiste assombrando os analistas militares. Desconfia-se que erros de avaliação semelhantes àqueles que causaram as mortes de 19 americanos em Mogadíscio (capital da Somália), onde as forças rebeldes foram subestimadas, tenham se repetido agora. “Não me parece que o comando de nossas tropas estava esperando tanta resistência”, diz o analista militar Thomas Seeley, do Instituto Histórico Militar, de Nova York. “É muito difícil se ter dados de inteligência suficientes sobre o inimigo na região. Trata-se de uma montanha com características de fortaleza e redes de cavernas que lembram ninhos de ratos. Quem poderá avaliar os recursos do inimigo?”, questiona Seeley.

O analista não é o único a comparar os eventos de agora com o enredo do filme Falcão Negro em perigo, que conta a história da batalha de Mogadíscio. Da base aérea de Bagram, no Afeganistão, o general Buster Hagenberg disse ter lembrado do filme durante as 18 horas que antecederam as operações de resgate de tropas americanas cercadas e sob forte fogo inimigo nas montanhas. “Foi a noite mais longa de minha vida”, diz o general. “Uma tentativa de resgate em que perdemos tantos homens quanto aqueles que tentamos salvar”, disse. A ação começou depois que um helicóptero tipo MH-47 Chinook foi atingido por lançadores de granada e teve de fazer um pouso forçado em terreno hostil. A tripulação de oito homens pediu socorro, mas seus salvadores também foram recebidos a granadas. Dos dois helicópteros de resgate, um foi abatido, com sete homens mortos, e o outro teve de bater em retirada, deixando um passageiro para trás. O cabo Neil Roberts, do Seals, comando de elite da Marinha, caiu do helicóptero, assim como aconteceu em Mogadíscio. Neil foi capturado ainda vivo, mas um avião-robô espião filmou sua execução sumária por membros da al-Qaeda. Os que estavam no solo tiveram de enfrentar 15 horas de tiroteio, até que o mau tempo da região permitisse novas incursões americanas.

Imediatamente depois disso, 800 soldados da 10ª Divisão de Montanha e da 101ª Divisão Aerotransportada foram despachados para a área e comandaram a pontaria dos bombardeiros. Durante a semana, cinco mil bombas de uma tonelada foram despejadas região de Gardez. A tropa que entrou em ação na segunda-feira 4 pediu e recebeu o reforço de mais 300 homens dois dias depois. Em pouco tempo, cerca de mil soldados de infantaria afegã, mais o contingente multinacional de 1.500 homens estavam em furioso combate com a al-Qaeda. No Pentágono, o chefe do Estado-Maior americano, general da Força Aérea Richard Myers, em entrevista coletiva, falou das opções na batalha: “Os guerrilheiros só têm duas alternativas: rendição ou luta até a morte. Ao que tudo indica, eles escolheram a segunda opção. Nós esperamos satisfazer este desejo.”