O incêndio iniciado na tarde da sexta-feira 1º de março, quando agentes da Polícia Federal, cumprindo ordem judicial, invadiram a sede da empresa Lunus Participações e Serviços Ltda., de propriedade da governadora Roseana Sarney e de seu marido, Jorge Murad, está longe de ser debelado. Durante a semana, o fogo reduziu a cinzas a aliança entre o PFL e o PSDB, atingiu as candidaturas de Roseana e José Serra e agora se aproxima do Palácio do Planalto. Na manhã da sexta-feira 8, o senador Carlos Wilson ocupou a tribuna do Senado munido de mais material inflamável. O petebista pernambucano mirou o fogueirão e disparou: “Não consigo entender por que um singelo delegado da Polícia Federal, em meio a uma operação de busca e apreensão, no escritório de uma figura notável da República, o empresário Jorge Murad, esposo da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, transmitiu via fax documentos – e não importa que tipo de documentos – para um número de telefone do Palácio da Alvorada. Como é que este delegado tinha o número da Ajudância de Ordens do Palácio da Alvorada? É no mínimo suspeito.”

O senador disse ter dificuldade em acreditar que o presidente Fernando Henrique Cardoso estivesse à frente da operação da Polícia Federal, em São Luís. Disse ainda que falar em impeachment pode parecer extemporâneo, “mas que o presidente Nixon caiu por muito menos, isto é verdade”.

Carlos Wilson referia-se à invasão dos escritórios do Partido Democrata americano, instalados no prédio Watergate, em Washington, em 1972. Os invasores, membros do Partido Republicano, como Nixon, foram apanhados desmontando grampos telefônicos por eles lá colocados para escutar as conversas dos democratas. O fato foi encoberto por Nixon, mas persistentes reportagens do jornal Washington Post desmascararam a farsa e obrigaram o presidente americano a renunciar em agosto de 1974.

A propósito, grampo telefônico é um dos assuntos abordados na reportagem assinada pelo editor Weiller Diniz, da sucursal de Brasília de ISTOÉ, que começa à pág. 24.