Os bancos brasileiros nunca ganharam tanto dinheiro como no ano passado. Os lucros dos 31 maiores bancos somaram R$ 11,131 bilhões, 110%
a mais que em 2000. A safra de balanços das instituições mostra
que o setor bancário passou a bilhões de distância da crise econômica que afetou drasticamente a maioria dos negócios no Brasil e no mundo durante 2001. Quem brilhou mais foi o Itáu,
o segundo maior conglomerado financeiro do País. Líder no ranking
dos mais lucrativos em 2001, com ganhos de R$ 2,389 bilhões (um salto de 30% em relação a 2000), a instituição comandada pela família Setúbal incorporou um novo e valioso recorde à sua história. O balanço, divulgado na terça-feira, 5, revela mais do que a excelência do desempenho do Itaú. Nas entrelinhas revela que
a dobradinha juros altos-valorização cambial, perversa para muitos setores, foi o fermento dos lucros extraordinários do setor financeiro
no ano passado.

O Itaú tem mais um feito a comemorar: superou com certa folga os ganhos de seus principais adversários – Bradesco e Unibanco. O Bradesco, maior banco privado da América Latina, também deixou
para trás o resultado alcançado em 2000. Com um lucro líquido apurado em 2001 de R$ 2,170 bilhões, o banco obteve um aumento de 24,7%
na comparação com o exercício anterior. Ficou exatos R$ 219 milhões atrás do arquirrival Itaú. Outro que fechou o ano com recorde foi o Unibanco: a receita saltou de R$ 2 bilhões para R$ 3,1 bilhões – 55%
a mais – e o lucro bateu nos R$ 972 milhões ou 31,5% acima do alcançado em 2000. No setor público, a história não foi diferente.
O Banco do Brasil aumentou seus ganhos em 11,1%, se comparado com
o ano anterior, atingindo R$ 1,082 bilhão, o maior lucro desde a sua fundação, em 1808, por Dom João VI.

Mas o resultado mais impressionante foi o do BankBoston, cujos lucros saltaram quase 200%, de R$ 246 milhões para R$ 737 milhões. “Os bancos foram os grandes ganhadores da política monetária e cambial do governo”, resume o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), Alberto Borges Matias. Especialista na análise de balanços dos bancos e sócio na ABM Consulting, Matias diz que a maior fatia da receita das 31 instituições analisadas teve origem nas altas taxas de juros cobradas nas operações de crédito e nos negócios que envolveram títulos cambiais. No acumulado, as operações em dólar cresceram 92%, de R$ 2,9 bilhões em 2000, para R$ 5,9 bilhões no ano passado. Já a carteira de crédito, que representa basicamente os empréstimos concedidos pelos bancos, teve um aumento de 51%.
Os resultados apurados pelo setor bancário poderiam ter sido bem maiores não fosse a ligeira valorização do real nos últimos três meses do ano. “Esperávamos um dólar de R$ 2,60, mas a moeda caiu para R$ 2,30”, disse Roberto Setúbal, o comandante do Itaú. Não fosse isso, o banco teria acrescentado mais R$ 289 milhões aos seus lucros – o que de maneira alguma afetou o termômetro de sua saúde financeira, a rentabilidade sobre o patrimônio líquido do banco, que bateu nos 31,5%, bem acima da média do mercado, de 20%.

Imagem – Mas nem tudo são flores para o setor. Do outro lado do caixa, os bancos continuam com a imagem de bicho papão. O consumidor reclama cada vez mais do atendimento que recebe. Só no ano passado, a Fundação Procon de São Paulo recebeu mais de 12 mil consultas sobre os serviços prestados pelas instituições financeiras, sendo que 2,8 mil resultaram efetivamente em reclamações, o que colocou os bancos na segunda posição na lista negra da entidade em 2001. Os clientes reclamam tanto que a Confederação Nacional do Sistema Financeiro entrou na Justiça pedindo que os bancos sejam liberados do cumprimento do Código de Defesa do Consumidor. A iniciativa da Confederação, apoiada pela Febraban, entidade que reúne a maioria dos bancos do País, foi mais um baque na imagem negativa dos bancos junto à população.
A Febraban sabe disso. Tanto que tem pronto um estudo para realizar uma campanha visando melhorar a relação de amor e ódio entre os clientes e as instituições. A campanha ainda não saiu da gaveta e, na opinião de João Vaccari Neto, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, nem precisaria sair. “O problema de imagem é fácil de ser resolvido, melhoraria muito se eles estendessem o horário de atendimento e contratassem mais funcionários.”