Os brasileiros que chegam a Fortaleza de avião nestes dias têm de transpor um inusitado balcão de migração. Como se estivessem chegando a outro país, precisam apresentar a carteira de identidade e, em alguns casos, são questionados sobre o motivo da viagem. O esdrúxulo procedimento é o cartão de visitas do poderosíssimo esquema de segurança montado na capital cearense para receber as delegações que estão participando do 43º Encontro Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). É a terceira vez que o Brasil sedia o evento (a última foi no Rio, em 1980), e a primeira que Fortaleza entra no mapa da diplomacia mundial. Entre os mais de cinco mil visitantes aguardados, estarão pelo menos três presidentes (Brasil, Equador e Peru), dezenas de ministros da Fazenda, diplomatas de 46 países e convidados como o ex-presidente do FMI, Michel Camdessus. Gente tão poderosa e a fúria dos movimentos antiglobalização explicam, em parte, a paranóia por segurança. Serão três mil policiais nas ruas, mais três mil soldados do Exército. Áreas inteiras da cidade estão isoladas. Na quinta-feira 7, início oficial de atividades, uma manifestação de professoras terminou em empurra-empurra. No centro da cidade imperou o bom humor. Um grupo de estudantes universitários invadiu uma lanchonete e, em meio a gritos antiimperialistas, distribuiu tapioca aos consumidores de Big Mac. O protesto terminou sem incidentes.

O BID, criado em 1959, é o maior órgão de financiamento de projetos de desenvolvimento econômico da América Latina. Presidido pelo espanhol naturalizado uruguaio Enrique Iglesias, o BID escolheu Fortaleza para sedimentar os laços com a região Nordeste. Logo no início do evento, Iglesias anunciou a liberação de US$ 240 milhões para um projeto de turismo local. Mesmo despejando dinheiro nos países em desenvolvimento, o banco não escapa da fúria dos antiglobalização. O site oficial dos protestos fala em “arruinar” o encontro “porque o BID é um financiador de estratégias capitalistas que viram as costas ao campo social”. No discurso, o banco está colocando panos quentes na polêmica: toda a programação é voltada para temas sociais. Há um painel, por exemplo, que discutirá a “reforma das reformas”, uma espécie de mea-culpa das transformações liberais vividas na América Latina nas últimas décadas.