Portáteis, versáteis e fáceis de usar, os assistentes digitais pessoais (PDAs), mais conhecidos como palms, deixaram de ser apenas uma agenda sofisticada para se transformar
numa ferramenta de trabalho. Com os recursos
de um computador de escritório, os modelos de mão têm a vantagem de caber no bolso da camisa. Eles surgiram para abrigar num único aparelho a agenda de telefones e de compromissos, o bloco de notas e a planilha
para calcular as despesas do mês. Hoje, eles tocam músicas no formato digital mp3, fotografam, gravam, criam desenhos animados
e até vigiam a casa enquanto seu dono trabalha.

“A convergência dessa tecnologia com a telefonia celular ampliará ainda mais o leque de opções de baixo custo”, prevê
o engenheiro Carlos Eduardo Cugnasca, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, que estuda o uso do PC de mão para
aplicar na agricultura. O PDA já entrou até no cardápio. Em quatro restaurantes da rede paulista Ráscal, os garçons aposentaram a comanda para anotar os pedidos em computadores de mão da Compaq. Cada aparelho traz um cartão acoplado para transmitir os pedidos dos clientes à cozinha por sinais de rádio. “A maior queixa dos clientes era
a demora na entrega das bebidas e da conta. O sistema eletrônico aumentou nossa agilidade e as reclamações sumiram”, comemora a gerente de operações Luciana Bernardes.

Multas – Existe na internet uma miríade de programas para transformar um computador de mão em walkman, máquina fotográfica, gravador e filmadora. É possível também adaptar programas para finalidades específicas. Em Porto Alegre, há dez meses os fiscais que notificam veículos estacionados de forma irregular deixaram as planilhas e o papel-carbono e muniram-se de um computador de mão para anotar as infrações que no final do dia viram multas de trânsito. “No começo deu medo, achava que ia apertar uma tecla e apagar tudo. Mas aprendi fácil. Se fosse mais barato compraria um para mim”, diz a fiscal Letícia Araújo Monteiro.

O exemplo gaúcho não é o único. No Rio de Janeiro, os policiais de trânsito são treinados para fazer autuações com o palm. A idéia é que as infrações sejam arquivadas no aparelho e, ao final do expediente, transferidas diretamente, sem a necessidade de digitar caso por caso, para o departamento de trânsito, o Detran. Há ainda a intenção, no futuro, de integrar palms e telefones celulares ligados à internet. O policial acessaria, na hora, o banco de dados do Detran e, ao digitar a placa do veículo infrator, veria na tela a ficha completa do veículo e de seu proprietário.

Para o estudante paulistano Vítor Nano, dez anos, o assistente digital é uma diversão só. Aluno da quinta série do ensino fundamental, Vítor tem um modelo básico, o Palm III xe, que ele conecta a uma máquina fotográfica. Craque no desenho animado, ele baixou da internet o programa Teal Paint para criar imagens e colocá-las em movimento para enviar aos amigos por e-mail. Vítor montou uma sequência com 148 cenas, em que um garoto dá um show no skate, esporte que ele nem pratica. Mais de uma vez, ele foi convocado pelo pai, que trabalha numa empresa de informática, para demonstrar aos adultos como é fácil usar um PDA.

O investimento em soluções para a aplicação dos assistentes digitais não pára de crescer. Em dez anos, surgiram 110 empresas nacionais dedicadas a criar projetos a pedido dos clientes. Ainda em estudo, uma experiência avalia o uso de palms entre os frequentadores assíduos das corridas de cavalo do Jóquei Club de São Paulo. Em vez de ir ao guichê, os apostadores fariam seus lances em tempo real, sem sair da arquibancada, consultando o computador levado a tiracolo pelos funcionários do Jóquei.

É o bicho! – Na área de segurança, outra novidade. O empresário Alexandre Carmona, diretor da multinacional Innova Group, controla seu escritório e sua casa através de oito câmeras, cujas imagens podem ser acessadas toda vez que ele se conecta à internet. “É uma maneira de se sentir mais seguro lançando mão de soluções discretas, sem tanta visibilidade”, diz Carmona, que pagou R$ 10 mil pela tecnologia completa e prefere esse sistema em vez de contratar seguranças particulares. Tudo indica que o palm veio para ficar, mas o preço ainda é alto. O modelo mais barato sai por R$ 400, mas há outros com recursos e preços semelhantes aos dos computadores de mesa. O lado ruim da modernidade é que seus aplicativos agilizam o trabalho e muitas vezes resultam em corte de funcionários nas empresas. À margem da legalidade, até o jogo do bicho foi cooptado. Um grupo baiano, que prefere, por motivos óbvios, manter seu nome no anonimato, estuda equipar com palms os vendedores, eliminando o trabalho dos “apontadores”, que levam as apostas dos pontos-de-venda até a banca. Assim, elas seriam registradas e transmitidas para a central. Em tempo real e sem erros.