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PERIGO
Técnicos analisam o vazamento de gás: 100 mil pessoas visitam o shopping por dia

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Estima-se na casa de dezenas de milhares o número de terrenos contaminados no Brasil, e erguer empreendimentos em áreas onde funcionavam antigos lixões se tornou muito comum. Somente no estado de São Paulo, existem ao menos 3.675 locais nessas condições, de acordo com o mais recente relatório da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que nos últimos dias se envolveu em polêmica ao alertar para o risco de explosão do shopping Center Norte, na zona norte, por vazamento de gás metano. Baseado na vistoria feita pela Cetesb, o prefeito Gilberto Kassab havia decretado na semana passada a interdição do local e aplicado a sonora multa de R$ 2 milhões. Um dia antes do fechamento do centro de compras, na sexta-feira 30, a direção do empreendimento obteve liminar do juiz da 7ª Vara de Fazenda Pública, Emílio Migliano Neto, que impediu o prejuízo diário de R$ 5 milhões. Mas Kassab afirma que vai recorrer. Diante do perigo iminente de explosão envolvendo o segundo shopping mais movimentado da maior cidade do País, que recebe 800 mil pessoas num fim de semana, escancara-se, novamente, a falta de planejamento urbano tão praticada pelo poder público desde a década de 1970, que ainda cobra seu preço nos anos 2000.

Por duas décadas, os moradores da região do bairro do Carandiru utilizaram o terreno onde o shopping Center Norte está instalado desde 1984 como um lixão a céu aberto. Apenas em 2004 a Cetesb começou a investigar o vazamento de metano pelo subsolo, produzido pela decomposição dos dejetos orgânicos. Inodoro e menos pesado que o ar, o gás pode escapar por fissuras no piso. Após várias vistorias, técnicos da companhia ambiental constataram o risco de uma tragédia no local frequentado diariamente por 100 mil pessoas. Desde o dia 16 de setembro começaram a aplicar multas diárias de R$ 17 mil e apresentaram uma série de medidas a ser tomadas de maneira imediata pela direção do complexo comercial, entre elas a utilização de um sistema eficiente de drenagem do gás. “A Cetesb é um dos poucos órgãos sérios deste país, o metano é altamente inflamável e o risco de uma explosão é uma realidade”, diz André Rosa, professor de engenharia ambiental da Universidade Estadual Paulista.

A interdição começaria a valer a partir da sexta-feira 30. Em uma primeira tentativa de impedi-la, o administrador do Center Norte, Ricardo Ferreira Pinto Afonso, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Estado, mas em tempo insuficiente para atender às exigências da Cetesb. “O Center Norte continuará a executar as medidas de monitoramento diário da área e da instalação dos drenos para a extração do metano do solo, de acordo com as exigências e cronogramas previstos no TAC”, afirmou, em comunicado, a direção do shopping. Desde que o caso veio a público, o fluxo de clientes baixou consideravelmente, segundo os lojistas. Há pelo menos outros 13 empreendimentos em áreas contaminadas em São Paulo, entre eles o Conjunto Habitacional Cingapura, ao lado do Center Norte, onde vivem sete mil pessoas, também ameaçadas com a possibilidade de explosão provocada pelo metano. Mas o problema atinge também as cidades do interior. Em Campinas, a prefeitura embargou uma obra no bairro das Mansões Santo Antônio, praticamente todo construído sobre um inativo lixo industrial. Há 11 anos, seis mil moradores da cidade de Mauá, no Grande ABC, convivem com o risco de contaminação pelo gás tóxico benzeno e de explosão por metano. Os 54 edifícios do condomínio Barão de Mauá estão em uma área de 160 mil metros quadrados, onde a fábrica de amortecedores Cofap manteve seus detritos industriais. A explosão de um poço por conta do vazamento dos gases já provocou a morte de uma pessoa. Moradores relatam históricos de doenças provocadas pela exposição. A Cetesb já concluiu pelo esvaziamento de 11 prédios, um deles onde a dona de casa Silvana Finetto, 46 anos, mora com os dois filhos e o marido. “Em dias de tempo seco ou quando o apartamento fica muito tempo fechado, o cheiro de gás é mais forte. Eu vivo angustiada, pois não sabemos o quanto já fomos expostos.” O processo judicial contra a Cofap e as construtoras se arrasta há dez anos. 

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