Para uma sociedade como a americana, alicerçada nos valores puritanos que aportaram a bordo do navio Mayflower, a herança religiosa ainda fornece material tanto para relatos históricos como para análises antropológicas. O que leva um pastor a matar em nome do abolicionismo e seu filho a contestar-lhe a fé? O que faz um pai extremado quando vê sua cria desviar-se do caminho ancestral sob a influência de um mundo que se moderniza à revelia da fé e dos princípios cristãos? São esses apenas alguns dos questionamentos que a escritora americana Marilynne Robinson coloca em seu mais novo livro, Gilead (Nova Fronteira, 304 págs., R$ 34,90). Curiosamente, embora bissexta na ficção – seu romHousekeepingance anterior, , foi escrito 25 anos atrás – e com apenas uns poucos ensaios publicados, a autora sempre acaba se saindo bem com seus trabalhos: enquanto o primeiro receberia o prêmio Pen/Hemingway, este último ficou com o disputado Pulitzer de 2005. Mas será que ele vale tudo isso?

Gilead é um livro apenas razoável e de fácil leitura. A explicação para tanto barulho talvez esteja mais na medíocre produção média do mercado americano no ano passado que no preciso relato da história contada sob a ótica de uma pequena comunidade do caipiríssimo Estado de Iowa. Mais provavelmente tem a ver com a onda de crescente conservadorismo da opinião pública dos Estados Unidos, aquela mesma que, em substancial parcela, acredita piamente que Deus fala com George Bush e que é Ele quem o aconselha a cometer seus desatinos.