Ao adotar, no início de 2005, o slogan “A caminho da liderança”, a Rede Record soou pretensiosa. Passado um ano, o sonho de usurpar o reinado que a Rede Globo mantém há pelo menos três décadas já não é um delírio megalômano. Com Prova de amor, a novela azarão das 19 h, a emissora do bispo Edir Macedo fez o SBT comer poeira e agora ameaça a atração de maior prestígio da vênus platinada: o Jornal Nacional. No entanto, tal feito não se deve a um arroubo de brilhantismo na programação, nem às orações dos fiéis da Igreja Universal. No caminho da liderança, a Record pegou o atalho do “Nada se cria, tudo se copia”, passou a imitar a estética e a assediar com propostas milionárias profissionais da emissora carioca.

O primeiro sinal de que seguiria a cartilha do chamado “padrão global” veio
na grade de domingo. Comandado por Celso Freitas – grife do jornalismo da
Globo – e Lorena Calábria, o Domingo espetacular firmou-se como versão genérica do Fantástico. Assim como Zeca Camargo e Glória Maria, os apresentadores locomovem-se pelo cenário com jeitão futurista à la Hans Donner ao exibir as reportagens. E se o Domingo espetacular apenas sinalizava a tática da Record, a confirmação veio com o remake de A escrava Isaura, primeira novela de exportação da emissora de Roberto Marinho.

Embora não seja releitura de nenhum folhetim da Globo, Prova de amor é como
se fosse. O elenco é formado por ex-globais como Lavínia Vlasak e Leonardo Vieira
e a história do autor Tiago Santiago (ex-colaborador da Globo) poderia muito bem
ser uma parceria inédita de Manoel Carlos, Aguinaldo Silva e Glória Perez. Mesmo com os números do Ibope dizendo o contrário, Luís Erlanger, diretor da Central
Globo de Comunicação, diz que a emissora tem “ampla vantagem em relação
à concorrência”. “A Record não é sequer a segunda colocada e busca não
só copiar como também desrespeitar os contratos formais de terceiros para conquistar espaço.”

De fato, a emissora carioca mantém a liderança. Mas, para a Record, o Olimpo já não é inatingível. Tanto que, além de Prova de amor e do fator Bang bang, a novela-fiasco que afugentou boa parte dos telespectadores da Globo, a rede paulistana terá nessa segunda-feira um novo trunfo: o Jornal da Record repaginado. Em terninhos bem-cortados e na bancada acinzentada, os ex-âncoras da Globo Celso Freitas e Adriana Araújo darão o “boa-noite” e as principais notícias do dia. E o telespectador, mais uma vez, terá a sensação de “já vi isso antes”.