Eles dominaram a Terra por 150 milhões de anos e deixaram rastros, vestígios e lendas que reverberam até hoje. Envoltos num manto de fascínio e curiosidade, os dinossauros também provocam a imaginação dos cientistas, que abusam do arsenal tecnológico para traduzir os costumes e a vida dos gigantes que reinaram sobre a Terra.

Foi a duras penas que o geólogo paulista Sérgio Mezzalira, 85 anos, destrinchou um desses monstros. O resultado de seu trabalho saiu na revista britânica Palaeontology de janeiro, que detalha a descoberta de uma nova espécie de dinossauro brasileiro. O bicho foi batizado de Adamantisaurus mezzalirai em homenagem ao geólogo e à cidade de Adamantina, em São Paulo, onde Mezzalira achou uma série de seis vértebras da cauda do novo gênero de titanossauro (herbívoro de pescoço longo).

O Brasil é uma terra fértil para estudiosos
da Pré-História. Ao lado da Argentina, da
Ásia, da China e da África, o País possui
sítios paleontológicos importantes, onde
foram encontrados fósseis de espécies
com mais de 100 milhões de anos. Poucos lugares, no entanto, apresentam tamanha abundância em fósseis intactos quanto a região do Araripe, entre os Estados do Ceará, Pernambuco e Piauí. “No período Cretáceo, há 65 milhões de anos, quando houve a a separação entre o Atlântico e a África resultou em um enorme vale, no qual viveram diversas espécies de peixes”, explica Luiz Eduardo Anelli, paleontólogo e professor-doutor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP).

Além dos peixes do período Cretáceo, a Chapada do Araripe também era sobrevoada por répteis voadores e primos dos dinossauros, os pterossauros. Para reconstruir esses animais como eles foram no passado, os paleontólogos em geral empregam a última palavra em tecnologia. “O microscópio eletrônico de varredura amplia em quase um milhão de vezes o tamanho dos tecidos encontrados nos minúsculos fósseis de peixes na Chapada do Araripe, e com isso podemos analisar a composição química dos animais e conhecer um pouco mais sobre como eles viveram”, explica Anelli, que é o curador da exposição Dinos na Oca – e outros animais pré-históricos, aberta na semana passada no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e que vai até 30 de abril.

Pelos corredores da mostra é possível observar, através de réplicas, que as aves são o retrato mais fiel dos dinossauros que habitaram o planeta há milhões de anos. O Saturnalia, por exemplo, tinha só um metro de comprimento, mas ficou conhecido por ser o bisavô dos herbívoros. Seus ossos com mais de 200 milhões de anos foram encontrados no quintal de uma moradora de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Essa região –, e também o norte da Argentina– é importante para a ciência porque ali viveram os dinossauros mais antigos da América do Sul. Um desses bons velhinhos é o predador Eoraptor, o mais antigo da história, com 230 milhões de anos. “Essa espécie é um dos mistérios da paleontologia. Raros são os fósseis encontrados, por isso sabemos pouco sobre esse bípede de um metro da cabeça à ponta da cauda”, diz Anelli.