acrisechegou1_78.jpg

O mundo econômico voltou a ficar esquizofrênico, mas desta vez o estopim foi lançado direto dos chamados países desenvolvidos. Bolsas derreteram ao longo da semana e o câmbio oscilou loucamente no rastro de um temor generalizado de que os EUA já estejam enfrentando problemas de saúde financeira. A bolha americana foi montada fundamentalmente sobre os negócios imobiliários. Por anos, as transações de compra e venda de imóveis vêm puxando boa parte do que Alan Greenspan, ex-presidente do FED – o banco central de lá – convencionou chamar de “exuberância irracional”. O gás dos americanos para esses negócios imobiliários parece estar secando e a virada de humores contamina o mundo. As hipotecas imobiliárias nos EUA podem virar uma bola de neve com quebradeiras em cascata. É o que alertam os especialistas, e os investidores passaram a acreditar firmemente nessa possibilidade. Vários bancos como o francês BNP Paribas acharam por bem bloquear resgates em três dos seus fundos que têm investimentos lastreados nos papéis de alto risco – em especial aqueles que apostaram mundos e fundos nos empreendimentos imobiliários dos EUA. A decisão do BNP acendeu uma luz vermelha nos demais. O rastilho de pólvora correu por entre as mesas e terminais de corretoras e Bolsas, na velocidade “on line” que rege as transações para o bem ou para o mal.

De tal magnitude foi o abalo que bancos centrais da Europa e dos EUA tiveram que sair imediatamente em socorro. De uma só sacada, na quinta-feira 9, injetaram mais de US$ 154 bilhões nos mercados, naquela que já está sendo considerada a maior operação de resgate financeiro já acionada em tão pouco tempo. No dia seguinte, colocaram mais US$ 108 bilhões. Historicamente, esses tremores sísmicos na banca foram regidos pelos chamados países emergentes, como Rússia, Tailândia, Brasil, Argentina ou Turquia, em geral pouco preparados para as bruscas oscilações que acompanham os lucros sempre tentadores das Bolsas. Desta vez o problema nasceu nos Estados Unidos e o movimento parece ser menos regido por especuladores. As análises dos grandes bancos de investimentos apontam que efetivamente a crise está chegando montada na montanha de hipotecas que os conterrâneos de Bush tomaram sem lastro para honrar.

acrisechegou2_78.jpg

No Brasil, muito embora as autoridades tenham rapidamente alegado que o País está protegido, o que se viu foi um contágio perigoso. O risco-país disparou, alcançando 184 pontos. A Bolsa de São Paulo viveu dias de parafuso e chegava à sexta-feira 10 caindo logo pela manhã mais de 2%. O dólar, que por aqui parecia ter se estabilizado na casa do R$ 1,80, cravava na mesma sextafeira R$ 1,97. Essa piora nos indicadores pode significar uma estiagem prolongada na temporada de bons fluidos que a economia global vinha experimentando. Neste novo cenário é que a economia brasileira – independentemente das sacudidas de escândalos políticos que viveu – vai passar por seu grande teste. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz que o crescimento de US$ 100 bilhões nas reservas do País é um colchão suficiente para a travessia de qualquer tempestade. “O Brasil tem dólares sobrando”, alardeou. “Mas o crédito tende a ficar escasso”, avisa Edgar Pereira, economista do Iedi. Como se vê, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.