Quando era considerado mau exemplo por não comparecer a treinos, freqüentar boates em vésperas de jogos, provocar adversários ou desobedecer a técnicos e cartolas, Romário, entre fastio e displicência, filosofava: “Eu não sou televisão para ter boa imagem.” Mas eis que ele chega aos 40 anos – completados domingo 29 – com um sensacional drible à fama. Hoje, é um herói. O artilheiro contabiliza 949 gols, perto de atingir o milésimo e se equiparar a Pelé. O novo quarentão não dá bola para a idade: “Vivo feliz, tenho uma grande mulher, seis filhos, pai e mãe saudáveis, grandes amigos, conquistei entre 80% a 90% de tudo o que almejei na profissão.” Para explicar o sucesso, recorre a uma peculiar filosofia. Segundo ele, Deus estava lá no céu, quando olhou para a Terra, viu um bebezinho meio cafuzo que acabara de nascer na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, e sentenciou: “Esse é o cara.” Seguindo a linha modéstia-zero, disse, na quarta-feira 25: “Dentro da área, só vejo o Pelé acima de mim. Se existe alguém melhor do que eu, não vi jogar.” E revelou que poderá ser candidato nestas eleições, pelo Partido Popular (PP/RJ). “Existe a possibilidade. Vocação eu não tenho, mas vou tentar.”

Melhor jogador do mundo eleito pela Fifa em 1994, ele também é campeão de polêmicas. Brigou com Zico, Zagallo e Pelé, entre muitos outros. Júnior, que
jogou futebol até 39 anos, define: “Romário é extraclasse. A bandeira dele
nunca será a meio pau. Ele não é morno. É um exemplo de artilheiro.” Segundo
o psicanalista Chaim Samuel Katz, “Romário representa um perigo para a sociedade disciplinadora”. “Ele foge às regras, não se submete. Joga na vida
de maneira nômade e tem um sentido de liberdade que nem todos sabem seguir.” Valeu, peixe quarentão.