Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo, entrou em fase de alta tensão, após a denúncia de um megacaixa 2 revelada a ISTOÉ (1891) pelo economista Laércio Pedroso, que atuou dez anos na área financeira da binacional. No final da segunda-feira 23, o diretor-geral brasileiro, Jorge Samek, foi ao Planalto para uma tensa conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O diretor de coordenação de Itaipu, Nelton Friedrich, rondou o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para convencer o relator da CPI dos Correios a não botar o dedo na tomada de Itaipu. O líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), anunciou que Samek se disporia a enfrentar uma audiência pública – mas sem a presença do inconfidente Pedroso. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) admite: “Se houver elementos, podemos fazer até a CPI de Itaipu.”

Vestal intocável das estatais, Itaipu perdeu a blindagem. “Se não há nada a esconder, por que temer uma auditoria?”, perguntou o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Adylson Motta, ao jornal ABC Color, o maior do Paraguai. Ele disse ter recebido Samek, que lhe garantiu: “Itaipu está aberta e quer o controle.” Com base nisso, Motta vai ao Planalto pedir a Lula que se abra a caixa-preta da binacional. Age em dupla com sua contraparte de lá, Octávio Airaldi, chefe da Controladoria Geral da República, que dirá o mesmo ao presidente Nicanor Duarte. Sua tarefa parece mais difícil. “Fechem os ouvidos a esta camarilha de pregoeiros do ódio, do rancor e da maldade”, disse Nicanor num comício na cidade de General Aquino, no final de semana, em defesa do diretor paraguaio de Itaipu, Victor Bernal. Por acaso, era uma cerimônia de distribuição de donativos de Itaipu a escolas, cooperativas e ONGs da região. Segundo a oposição paraguaia, Bernal é o cajero de Nicanor, que tentará no mês que vem ganhar a prévia do Partido Colorado para se reeleger em 2008. “Comprovada a cumplicidade do Executivo, vamos pedir o impeachment do presidente da República”, avisam os deputados Fernando Oreggioni e Juan Bartolomé Ramirez, do oposicionista Partido Liberal Radical Autêntico.

A unanimidade de Itaipu começa a se romper também entre ex-aliados. O Consórcio Itaipu de Engenharia Eletromecânica (Ciem) reabriu, quatro meses atrás, na Justiça Federal de Foz do Iguaçu, uma ação para cobrar uma dívida no setor de transporte pesado. O que era uma pendenga de US$ 30 milhões virou, depois de idas e vindas, um contencioso de US$ 114 milhões. Neste curto-circuito, é Itaipu de um lado e, de outro, a francesa Alston Power, uma das maiores do mundo no setor de energia.