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Entre os íntimos, ele é conhecido como “Manezinho”. Apaixonado pelo futebol, o juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho gostava de mostrar o talento com a pelota na quadra da Associação Paulista dos Magistrados (Apamagis) em descontraídas “peladas” entre seus pares. Segundo os amigos, Manoel, que tomou posse no Tribunal de Justiça em 1987 – ele passou em 37º lugar no concurso –, só aposentou as chuteiras depois de ter “quebrado” meia dúzia de adversários, que prometeram revide. “Ele não pagou para ver”, garantem os amigos, que só falam dele sob anonimato. Também nos tribunais, o togado não abandonou as entradas maldosas, derrapadas e faltas graves. Os mesmos amigos do futebol são categóricos em afirmar que a pior jogada de “Manezinho” em julho passado, o juiz Junqueira Filho, titular da 9ª Vara Criminal de São Paulo, ele “entrou em campo” para resolver uma contenda entre o jogador Richarlyson, do São Paulo, e José Cyrillo Jr., um cartola do Palmeiras que supostamente acusou o atleta de ser homossexual. A bola fora do juiz se deu na justificativa de sua decisão de mandar arquivar a queixa-crime baseado em interpretações homofóbicas. “Futebol é jogo viril, varonil, não homossexual”, escreveu ele na sentença.

A sentença é um arrazoado de preconceitos. “Quem se recorda da Copa do Mundo de 1970, quem viu o escrete de ouro jogando, jamais conceberia um ídolo seu homossexual”, escreveu no documento. Junqueira Jr. foi além e chegou a propor uma nova federação de futebol, só para gays: “Não que um homossexual não possa jogar bola. Pois que jogue, querendo. Mas forme o seu time e inicie uma federação.”

O fecho da sentença flerta escandalosamente a ideologia fascista: “O que não se mostra razoável é a aceitação de homossexuais no futebol brasileiro, porque prejudicariam a uniformidade de pensamento da equipe, o entrosamento, o equilíbrio, o ideal…” A querela desembocou numa situação insólita: o jogador que se defendia da acusação de ser gay agora move um processo contra o próprio juiz por preconceito.

Para o Grupo Gay da Bahia (GGB), o sentimento é de revolta e fraqueza diante de tamanho desrespeito. “É um atentado à liberdade. Somos vulneráveis a juízes truculentos e violentos. Ele (Maximiano Junqueira Filho) deveria ser submetido a 200 horas de aulas sobre como lidar com homossexuais, já que presta um desfavor à população”, desabafa Marcelo Cerqueira, presidente do GGB.

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Mas desta vez o gol contra de Junqueira Filho poderá lhe render um cartão vermelho: já são três processos que chegaram à Justiça para pedir o afastamento do magistrado em razão dessa sentença. “Já para o chuveiro!”, como se diria na gíria futebolística.


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