“A estrela-d’alva/ no céu desponta/ E a lua
anda tonta/ com tamanho esplendor”

As pastorinhas, Noel Rosa e João de Barro

As noites de março prometem ser brilhantes. No céu estará a maior e mais luminosa lua cheia de 2002. O efeito se repete outras duas vezes neste ano e acontece porque o satélite está 50 mil quilômetros mais próximo da Terra e 2,3 milhões de quilômetros mais perto do Sol, de quem toma o brilho de aluguel. Março traz ainda o lume intenso do planeta Vênus. Após 45 dias encoberto pelo Sol, ele despontou no horizonte na sexta-feira 1º e será visível a olho nu, durante todo o anoitecer, até o mês de outubro. Sua visibilidade está facilitada pelo alinhamento dos planetas, agora dispostos na ordem Sol, Vênus e Terra. A melhor maneira de se observar Vênus é escolher um local em que o horizonte não fique obstruído por arranha-céus, de preferência num descampado, onde é bom redobrar a atenção para que o brilho celeste não seja eclipsado por cenas de violência urbana. Para enxergar o planeta é preciso mirar a linha do horizonte 45 minutos depois do pôr-do-Sol. Vênus fica pouco acima do ponto onde o astro se esconde e é o segundo planeta mais próximo dos raios solares. Conhecido popularmente como estrela-d’alva, ele está na constelação de Aquário, a 251 milhões de quilômetros da Terra.

A singularidade de seu brilho, só menos intenso do que o do Sol e o da Lua, fascina a humanidade desde as antigas civilizações e esteve sempre associado a divindades femininas e a eventos especiais. Não há consenso, mas especula-se que tenha sido Vênus a estrela de Belém, que iluminou o céu na noite do nascimento de Cristo. O primeiro registro de sua existência foi legado pelos babilônios, que viveram entre 6 mil e 2,5 mil anos atrás, onde hoje é o Iraque. O planeta foi batizado de Ishtar, a deusa da fertilidade. A maioria dos nomes dados às crateras identificadas em sua superfície é de mulheres, entre eles Cleópatra, Antonina, Daphne e Leona.

Tanto brilho se explica pela atmosfera, a maior e mais densa entre os planetas estudados. “As nuvens geram um reflexo muito forte da luz solar. É como um farolete celeste”, explica o físico carioca Marcomede Rangel, do Observatório Nacional. A cada oito anos, a estrela da manhã passa por um período de brilho máximo, e depois de outubro, entra em seu ocaso e volta a ser ocultada pelo Sol. Com um telescópio é possível perceber as várias fases do planeta, exatamente como se observa as fases cheia, minguante, nova e crescente da Lua.

Hubble – Se o farolete cósmico desperta curiosidade entre os astrônomos amadores, um outro evento espacial previsto para os primeiros dias de março está atraindo a atenção da comunidade científica. Pela primeira vez, o telescópio Hubble será totalmente desligado para que nele sejam instalados equipamentos de última geração. O telescópio ganhará uma câmera dez vezes mais sensível que a atual. Na última missão para reparos, em 1997, não foi necessária a sua desativação total. A missão agora é de alto risco. O frio extremo do espaço pode danificar instrumentos importantes. “É uma corrida contra o tempo. É uma missão essencial, mas arriscada”, afirmou Ed Weiler, diretor da agência espacial americana Nasa.

Localizado 580 quilômetros acima da Terra e em órbita há 12 anos, o telescópio Hubble capturou as mais belas imagens do Universo, como o nascimento e a morte de estrelas em grandes colisões intergalácticas. Como ele fica acima da atmosfera, suas lentes registram imagens mais nítidas do que os telescópios terrestres. É a diferença de olhar para o Sol diretamente ou através da água de uma piscina, por exemplo. A viagem de manutenção do telescópio deverá durar 15 dias. A ironia é que bem nos dias em que o espaço reúne dois belos eventos celestes, o nosso grande olho cósmico estará fora do ar.

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