Na sua estreia internacional, como primeira mulher a abrir a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, a presidente Dilma Rousseff fez história. Não só por uma questão de gênero e por proclamar o “século das mulheres”, mas, sobretudo, pela ênfase dedicada ao tema mais sensível das relações internacionais: a questão palestina. Nada é tão urgente e tão necessário nos dias de hoje quanto a criação de um Estado soberano para o povo palestino, a quem é negado o direito básico de ir e vir e que, há anos, vive confinado em pedaços estreitos de terra, numa prisão a céu aberto, controlada por Israel.

Dilma fez seu discurso dez dias depois da passagem dos dez anos do 11 de setembro de 2001. E é inacreditável que uma década não tenha sido o bastante para que os Estados Unidos enxergassem o óbvio: a raiz da violência no Oriente Médio não é nenhum fundamentalismo religioso, mas sim a opressão sistemática – e quase genocida – a um povo. “Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos”, disse Dilma. Só que, nos últimos anos, em vez de buscar a paz, Israel tem preferido ampliar seus assentamentos e confinar ainda mais os seus vizinhos.

Que paz é possível nessas condições? Certamente, não a proclamada por Barack Obama, que, na mesma Assembleia da ONU, lavou as mãos. Ele, que havia assumido o compromisso de lutar por um Estado palestino, passou a dizer que uma paz genuína só poderá ser alcançada entre palestinos e israelenses. Em resumo, pregou que o oprimido combine o jogo com seu opressor. Só que, lá atrás, o Estado de Israel não nasceu pelo diálogo. Nem o holocausto da Segunda Guerra Mundial foi suficiente para garanti-lo. Ele foi conquistado à força, graças à bravura daqueles judeus que disparavam bombas e colocaram os ingleses para correr da Palestina – e que, no seu tempo, eram
chamados de terroristas.

Em 1948, quando nasceu o Estado de Israel, o Brasil teve um papel importante, com a atuação de Oswaldo Aranha. Agora, é a hora de mais uma vez se posicionar do lado correto da História. A favor do Estado palestino.