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Toda vez que um jovem talento do nosso futebol é negociado com um clube do Exterior arma-se uma grita geral, como se o patrimônio nacional estivesse em jogo. A bola da vez é Alexandre Pato, craque do Internacional de Porto Alegre, vendido ao italiano Milan, na quinta-feira 2, por 22 milhões de euros (R$ 56,4 milhões). Com apenas 17 anos, nenhum jogo contra o rival Grêmio no currículo e apenas 13 gols como profissional, a chiadeira foi alta. “É quase um tráfico de menores. Ele não disputou 30 jogos no Brasil. Não dá, né?”, reclama o comentarista esportivo Flávio Prado. “Sobram para o nosso campeonato atletas jovens e pernas-de-pau ou velhos.”

A venda de Pato faz parte de uma recente estratégia do Inter de formar jovens talentos, com foco em atacantes, para futuras negociações. Antes dele, o clube gaúcho vendeu Rafael Sobis (aos 19 anos) por US$ 12 milhões, no ano passado, Nilmar e Daniel Carvalho (ambos de 20 anos), por US$ 4,3 milhões e US$ 4,2 milhões respectivamente, em 2004, e Fábio Rockenbach (19 anos) por US$ 12 milhões, em 2001. As vendas geram caixa, o que permite ao time manter uma boa estrutura e fazer novos investimentos.

O Inter, vencedor do Mundial de Clubes no ano passado, segue o modelo do São Paulo, o campeão do mundo de 2005. O time paulista é o melhor exemplo de exportador bem-sucedido de jovens talentos. Por ano, o São Paulo gasta US$ 2,5 milhões com a formação de jogadores e arrecada US$ 9 milhões com a venda deles. Em 11 anos, os atletas revelados pelo clube renderam US$ 103 milhões. “Temos uma excelente formação de base, marca forte e boa performance coletiva, estamos sempre disputando títulos”, diz Marco Aurélio Cunha, superintendente de futebol do clube. “O São Paulo é muito respeitado lá fora pelo marketing que faz com seus jogadores, pela diretoria unida e pelas finanças em ordem. O estrangeiro já sabe que não vai enfrentar moleza para levar um talento”, diz a advogada Gislaine Nunes, especializada em contratos de futebol.

É claro que o País perde quando um jovem jogador com o brilhantismo de Pato deixa o Brasil. Primeiro, porque não vai transformar seu talento em títulos e projeção internacional ao clube. Segundo, porque deixa de ser referência para torcedores mirins e futuros atletas. Mas para os times e para o craque é um bom negócio. A Lei Pelé ajuda na medida em que os jogadores deixam de ser propriedade do clube. Ao final de um contrato, eles têm liberdade para buscar melhores oportunidades e não ficam presos ao time como antes. Nem todos os clubes, porém, conseguem lucrar com isso.

Veja o caso do lateral-direito Ilsinho. Revelado pelo Palmeiras no ano passado, o clube endureceu na renovação do contrato do atleta – ele ganhava R$ 900 por mês. Com 20 anos na época, Ilsinho chateou-se e foi jogar no São Paulo. Lá, tornou-se titular, foi campeão brasileiro e convocado para a Seleção. Duas semanas atrás, o São Paulo o negociou com o Shakhtar Donetski, da Ucrânia, por 10 milhões de euros. Como 40% desse valor pertence ao jogador, Ilsinho ficou quatro milhões de euros (R$ 10 milhões) mais rico em apenas um ano – e o São Paulo, além de engordar o caixa, mostrou como profissionalismo e boa estrutura dão bons resultados a curto prazo.