O procurador Alexandre Camanho, que acompanha o inquérito da Polícia Federal para apurar a gravidez de Gloria Trevi dentro da carceragem, avisa: o caso não se encerra com a divulgação dos testes de paternidade de Angel Gabriel, nascido no dia 18. Ele quer ir fundo nas investigações de violência sexual contra a cantora mexicana por agentes federais. O inquérito de três mil páginas, tendo à frente a edição da revista ISTOÉ que levou à reabertura do caso, já coleciona indícios de crimes. Um delegado, acusado de ter relações sexuais com a cantora, deve ser denunciado por corrupção ativa e coação a testemunha. O procurador nega, no entanto, que tenha pressionado, junto com o delegado Cláudio Ferreira Gomes, o empresário mexicano Sérgio Andrade a assumir a paternidade. Gloria e Sérgio fizeram a denúncia ao padre Ubaldo Steri, membro do Comitê Nacional para Refugiados do Ministério da Justiça. Na última semana, o padre reafirmou a denúncia, publicada por ISTOÉ, ao ministro Marco Aurélio Mello, presidente do STF.

ISTOÉ – Se o exame de DNA apontar um preso como o pai, isso inocenta os policiais?
Alexandre Camanho –
Absolutamente não. Com o exame de DNA vamos esclarecer a paternidade, mas a questão da violência contra Gloria Trevi continuará sendo investigada. Uma gravidez, ainda que consensual, não elimina a hipótese de agentes do Estado terem tido relações com ela. Num quadro em que há uma detenta sob a custódia de policiais, existe tal redução de sua vontade que não se pode dizer que ela fez algo livremente. Um quadro de violência presumida.

ISTOÉ – O delegado acusado de ter relações sexuais com a cantora pressionou mesmo uma testemunha para que retirasse seu nome no depoimento à PF?
Camanho –
Temos indício veemente de corrupção ativa de testemunha para que retirasse o nome desse delegado do escândalo. Na investigação já ficou apurada uma série de crimes. Maus policiais serão punidos
por abuso de autoridade, prevaricação, corrupção ativa e o que
mais aparecer.

ISTOÉ – O sr. não teme uma fraude na realização do exame?
Camanho –
O MP está disposto a pedir, depois de feito o exame (no Instituto Nacional de Criminalística), a realização de novos testes em uma universidade ou laboratório independente.
ISTOÉ – Não existe o risco de policiais federais terem fornecido amostras de sangue erradas? Como o MP se defende do corporativismo da PF?
Camanho – É possível. Não estive presente nas 76 coletas, mas pediremos uma contraprova com novas coletas.

ISTOÉ – Gloria e Sérgio acusam o sr. de ter pressionado o empresário a assumir a paternidade.
Camanho –
Não pedi que o Sérgio assumisse, apenas perguntei se ele queria declarar a paternidade. Isso porque fui procurado pela Silvia Beeg (namorada de Sérgio) dizendo que ele estaria disposto a prestar declaração de que era o pai. Fomos ao presídio, mas ele condicionou a uma conversa com Gloria. Fui conversar com ela. Disse que Silvia e Sérgio estavam com a idéia de Sérgio declarar a paternidade. Gloria ficou muito contrariada e falou que isso não ia dar em nada. Acho sintomático que essas denúncias tenham aparecido justamente depois que consegui no Judiciário a realização do exame de DNA.