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PIONEIRA
O campus chinês da Universidade de Nottingham foi inaugurado em 2004

Em menos de dez anos, a China recebeu 18 das principais universidades estrangeiras do globo, de acordo com um levantamento do centro de pesquisa inglês Observatory on Borderless Higher Education. A pioneira foi a Universidade de Nottingham, do Reino Unido, que inaugurou sua sede chinesa em 2004 e já discute abrir mais uma unidade no país. Logo vieram mais duas instituições britânicas, as universidades de Liverpool e Surrey. Neste ano, foi a vez de a Universidade de Chicago, dos Estados Unidos, anunciar a abertura de seu centro de pesquisas na região de Pequim. E a lista não para de crescer. Para os próximos dois anos está prevista a chegada de mais três americanas (leia quadro). Com aulas em inglês e um misto de alunos orientais e ocidentais, esses centros de ensino estão mudando o perfil da educação superior no país, tornando-a mais dinâmica e atrativa para quem está dentro e fora da China. É o caso da brasileira Camila Chueng, 27 anos. Moradora do Rio de Janeiro, ela decidiu fazer o MBA do outro lado do mundo. “O preço é semelhante ao de um bom curso no Brasil e o custo de vida na China é baixo”, disse. “Sem mencionar o diferencial de ter um diploma de uma conceituada universidade inglesa.” 

Move a corrida universitária rumo ao Oriente uma conjunção de fatores. Primeiro, o crescimento vertiginoso da economia chinesa. Segundo, os incentivos governamentais oferecidos para essas instituições se estabelecerem na China. Terceiro, a imensa massa de chineses em busca de aperfeiçoamento. Hoje, a cada cinco estudantes estrangeiros estudando nos países-membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), um é chinês. No país mais populoso do mundo, apenas 5% dos adultos têm ensino superior, o que vem incomodando o governo. Em suas metas de desenvolvimento, ambiciona-se elevar para 40% o percentual de graduados até 2020. Tornar a China uma potência capaz de concorrer internacionalmente exige abundância de cabeças pensantes e fluentes em inglês. Para isso, porém, ela tem de vencer um problema histórico: a baixa qualidade de seu ensino superior.

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EM OBRAS Até 2012
a Universidade de Duke pretende receber seus primeiros alunos na cidade de Kunshan

“Há alguns anos o governo chinês tem buscado meios para reformular e desenvolver a educação superior, tornando-a mais condizente com o crescimento econômico almejado”, disse à ISTOÉ Christine Ennew, vice-coordenadora para assuntos internacionais e para a Europa da Universidade de Nottingham. O primeiro passo foi abrir o ensino superior ao capital privado, na década de 80. O segundo, em 2003, permitir a entrada de instituições estrangeiras. “Incentivar a instalação de universidades de fora se mostrou uma oportunidade para aprender com elas”, afirma Christine. Além disso, essa abertura favorece a imagem do país, como explica o cientista político brasileiro José Medeiros da Silva, há quatro anos lecionando em universidades chinesas. “Politicamente é positivo porque passa a ideia de uma China disposta a interagir com o resto do mundo.”

Na opinião de Elizabeth Balbachevsky, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), a China decidiu ser referência no desenvolvimento de novas tecnologias. “Para isso, precisa de um sistema educacional muito dinâmico”, diz. Atrair instituições de educação reconhecidas, portanto, contribui para a realização desse projeto. Tanto que a maior parte das universidades estrangeiras está próxima a Xangai, a cidade mais populosa do país e importante centro industrial e financeiro, ou ao chamado “Vale do Silício chinês” – que, assim como a região americana, concentra empresas de tecnologia de ponta. Para se estabelecer nessas áreas, as instituições de ensino recebem benefícios, que variam de acordo com a província. “Nós recebemos o terreno e financiamento para a construção do campus que estamos erguendo em Kunshan”, disse à ISTOÉ a diretora de comunicação da Universidade de Duke, Laura Brinn.

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O modo como está estruturado o ensino superior chinês também beneficia a migração dessas escolas para a China. “Lá toda universidade é paga, inclusive as públicas”, diz Paul Lin, presidente honorário da Câmara Brasil China de Desenvolvimento Econômico. “Fica em torno de US$ 15 mil por ano (R$ 27,8 mil) e os pais sempre querem garantir as melhores universidades para os seus filhos.” Nesse valor, incluem-se os gastos com moradia e alimentação, uma vez que o ensino superior chinês é em tempo integral. Diante desse cenário, não restam dúvidas às instituições internacionais: rumar para o Oriente tem sido um negócio da China. 

 

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