Para começar bem o novo ano, encha a casa de flores. O conselho é da paisagista Cecília Beatriz Veiga Soares, diretora da Sociedade Amigos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. “Elas trazem muitos benefícios, do alimentar ao medicinal”, garante. A publicitária Cristina Von, de São Paulo, ressalta que elas também funcionam como mensageiras de emoções. “Existe uma simbologia associada a sentimentos”, completa. Ambas falam com conhecimento de causa. São autoras de livros recentes que tratam das propriedades das flores.

Lançada no início do mês, a obra Viva com as flores (Ed. Disal) é o 31 trabalho da escritora Cristina. “Pesquisei bastante para fazer um livro reunindo as múltiplas utilidades das flores”, afirma. O trabalho traz dados históricos e uma lista com os tipos mais apreciados pelos consumidores, entre outros itens. Um dos capítulos que chamam a atenção é o que apresenta uma relação de espécies usadas na culinária. Cristina conta, por exemplo, que a capuchinha (ou nastúrcio) tem sabor picante, parecido com o do agrião. Fonte de vitamina C, é usada em saladas.

A gastronomia também merece um capítulo na obra de Cecília, O livro de ouro das flores (Ediouro), que chega agora à segunda edição. “Os restaurantes têm utilizado flores na salada, mas elas fazem parte de outros pratos. Em Minas Gerais, é comum servirem frango com ora-pro-nóbis, rica em proteínas. É uma flor que nasce de um cáctus”, explica a paisagista, que apresenta em seu trabalho uma receita com a planta refogada. Na Inglaterra, no final do século XVI, outra espécie fazia sucesso. “Recomendava-se usar violeta em saladas, bolos e doces. Elas recheavam bombons e serviam de decoração nas sobremesas”, diz Cecília, que reuniu no livro 100 flores, todas com uma ficha que traz a origem e as aplicações das plantas, além de dicas de cultivo.

Reflexo – Outro tema que se destaca nas duas obras é a incorporação das propriedades das flores em terapias complementares, como fitoterapia (uso de extratos de plantas para tratar doenças), florais
de Bach (método que emprega essências para cuidar do corpo e da mente) e aromaterapia (baseada no aroma dos óleos retirados de
flores, ervas e folhas, batizados de essenciais). Em seu livro, Cristina aborda ainda a seleção de cores como reflexo do estado de espírito. “Escolhemos o que estamos sentindo”, acredita. Segundo ela, pétalas brancas (lírio e narciso, por exemplo) transmitem frescor e paz. Vermelhas (tulipa e bromélia), energia e paixão. Amarelas (girassol e gérbera), alegria e glória. Especialistas das terapias complementares corroboram os benefícios das flores. O aromaterapeuta Zheca Catão, representante da marca inglesa Neal’s Yard, especializada em óleos essenciais, revela que uma das plantas mais utilizadas dentro dessa linha é a alfazema (ou lavanda). “A flor tem propriedades para a alma porque acalma e para o físico. O óleo essencial é cicatrizante e anti-séptico”, assegura. Na aromaterapia, a flor de laranjeira é considerada relaxante. “Os cítricos também são bons para limpeza de pele”, acrescenta. Para combater a depressão, ele recomenda jasmim e dama-da-noite. Se o objetivo for ressaltar sentimentos do coração, a alternativa é a rosa, outra campeã de procura. Catão afirma que existem mais de dez mil espécies da planta, cujo óleo rejuvenesce a cútis.

Por causa de propriedades como essas, spas e clínicas de beleza estão recorrendo cada vez mais às flores, adotadas em banhos com diversas finalidades. No centro de estética Kronus, de São Paulo, pétalas de rosas amarelas, de gérbera e de calêndula são acrescidas à água morna, junto com gotas de essência de jasmim. “Ele é relaxante. Tem gente que prefere fazê-lo à noite para dormir bem”, afirma Cirlene do Rosário, gerente da casa.

Fogo – Na cidade de Monte Alegre do Sul (SP), a Fazenda Furquilha oferece banhos seguindo a linha ayurvédica (prática indiana que prega a sintonia entre corpo e mente). “Seleciono as espécies conforme o perfil da pessoa. Se é alguém que pertence ao tipo fogo, uma opção é o girassol”, indica o terapeuta Márcio Passos, referindo-se a uma das classificações dessa terapia.

Como se vê, vale a pena encerrar 2003 e abrir 2004 com muitas
flores. A terapeuta holística (trata o indivíduo considerando
aspectos físicos e emocionais) Kimie Kawashima, de São Paulo,
criou o banho da prosperidade para ser feito no dia 30, primeiro dia
da lua crescente. Leva casca de laranja, dez gotas de essência de alecrim, dez gotas de essência de petitgrain (mix de grãos) e pétalas
de flores de flamboaiã. “Essas flores nascem na copa da árvore. A simbologia é estar por cima”, diz. Passos desenvolveu um kit de banho para usar em casa. Tem rosas inteiras e frescas, pétalas, sais, ervas,
um frasco de mel. “É para terminar o ano limpinho”, brinca. Simplicidade também vai bem. A paisagista Cecília sugere enfeitar a casa com
qualquer espécie, qualquer cor. “Não temos uma estação de flores. No Brasil, elas dão o ano inteiro. Mas prefiro uma tropical, como a helicônia, porque dura mais tempo”, conclui.