Criado para permitir que países produtores e exportadores agrícolas de todos os tamanhos tivessem uma voz mais forte na reunião da Organização Mundial de Comércio (OMC) em Cancún (México), em agosto passado, o G-20, grupo de países liderado pelo Brasil, chega à maioridade seis meses depois. Uma reunião, convocada e organizada em menos de um mês pelo Itamaraty, conseguiu reunir em Brasília chanceleres e ministros do comércio dos 19 países que hoje compõem o grupo – Tanzânia e Zimbábue se tornaram os “sócios” mais novos –, além de duas presenças ilustres, o diretor-geral da OMC, o tailandês Supachai Panitchpakdi, e o comissário (ministro) do Comércio da União Européia, o francês Pascal Lamy.

“Essa reunião mostra que o G-20 se consolidou e que segue disposto a retomar as negociações da Rodada de Doha na OMC”, afirmou o
chanceler brasileiro Celso Amorim, saudado pelos parceiros não apenas como artífice mas como líder inconteste da turma. Amorim disse que o G-20 está pronto a flexibilizar suas posições sobre as questões agrícolas, mas garantiu que isso só vai acontecer depois que os EUA e a União Européia mudarem de posição sobre os gordos subsídios agrícolas e esquemas protecionistas que praticam. “Não somos nós que gastamos bilhões com subsídios”, ironizou. Amorim sabia que, antes de começar, na quinta-feira 11, a reunião do G-20 já representava um passo adiante para o grupo. Um dos primeiros pontos definidos era a posição única em relação às questões agrícolas para o reinício das reuniões da OMC, em Genebra, nesta segunda-feira 15. “A maior prova da importância que atribuímos à Rodada Doha é nossa intenção de retomar as negociações. Essa reunião é um chamamento a todos os integrantes da OMC para prosseguir com Doha”, afirmou o embaixador Clodoaldo Hugueney, principal negociador brasileiro.

Para o Itamaraty, além da presença maciça dos membros do G-20, foi importante o interesse da Austrália – líder do Grupo de Cairns, que reúne os grandes produtores e exportadores agropecuários e tem sido parceiro do G-20 –, que participou das reuniões, servindo para fortalecer o encontro. Até o Equador, que foi membro original do G-20 e pulou fora, pressionado pelos EUA, mandou seu embaixador para o encontro, dando sinais de reaproximação. Mas a presença de Supachai e de Lamy foi o aspecto mais comemorado pelos brasileiros e seus parceiros. “Isto é a maior prova de que o G-20 é hoje um interlocutor-chave na OMC, como a União Européia, os EUA, o Grupo do Japão e o G-90, que reúne os países em desenvolvimento”, afirmou uma fonte diplomática. Supachai, que pediu para vir, colocou em debate a questão da flexibilidade de posições, ouvindo que o G-20 quer que os ricos façam o movimento primeiro. Lamy, por sua vez, saudou o espírito de retomada das negociações da rodada. Mas ele procurou dar ainda mais ênfase às negociações do Mercosul com a UE, rumo a uma verdadeira área de livre comércio. “Vamos ser muito mais do que uma união aduaneira”, enfatizou. As conversas se aceleram. Há duas semanas, em Bruxelas, os dois blocos acertaram que em abril vão fazer a troca de ofertas em todos os campos. E mantiveram julho para concluir o texto do acordo que deverá entrar em vigor em outubro de 2004, três meses antes do prazo marcado para a minguada Alca.