São Paulo, quinta-feira 11. Eram nove horas da noite quando, após dois cheese-saladas e uma garrafinha de água mineral, o empresário Sérgio Gomes da Silva seguiu preso para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. Suas últimas palavras ainda em liberdade foram para ISTOÉ:

— Por que o sr. vai se entregar à polícia?
— Porque sou inocente e como inocente não tenho a menor estrutura emocional e psíquica para ficar foragido. Minha vida acabou. Eu sei da dor de ter perdido o meu melhor amigo e os que me acusam estão instrumentalizando essa dor contra mim. Se eu morresse hoje, encontraria a única pessoa que me importa porque sabe que sou inocente. Essa pessoa é o Celso Daniel.

O empresário seguiu preso num Santana da polícia, mas não caracterizado como tal. À frente do Santana ia uma Blazer do DHPP. Outra Blazer policial e o carro dos advogados fechavam o comboio. Sérgio foi preso sob a acusação do Ministério Público (MP) de ser o mandante do sequestro e assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, de quem era colaborador e amigo pessoal desde 1988 – tanto que o seu apelido era Sombra. O ex-prefeito foi sequestrado na noite de 18 de janeiro de 2002, ao sair de um restaurante no carro desse amigo, após um jantar. Apareceu morto dois dias depois. Segundo o MP, que fundamenta as suas acusações sobretudo no depoimento de dois bandidos, Celso Daniel descobrira um esquema de propina em sua prefeitura capitaneado por Sérgio. Como o empresário gostava de dinheiro e poder, mandou matá-lo. “Se fosse assim, ele não mandaria matar a sua galinha de ovos de ouro, porque o Lula sendo eleito o Celso cresceria politicamente e ele, Sérgio, cresceria junto”, disse a ISTOÉ o advogado Adriano Salles Vanni. Um dos bandidos cujo depoimento incrimina o empresário chamava-se Dionísio, que chegou a dizer que namorou a mulher de Sérgio em 1989. “Isso é ridículo. O Sérgio já estava casado em 1988. Ele então contrataria o homem que seduziu a sua esposa para matar o melhor amigo?”, disse a ISTOÉ o advogado Roberto Podval. Ponto de partida para as investigações, Dionísio foi assassinado pelo PCC na cadeia para a qual foi enviado e que é dominada por uma facção contrária à sua. Há no processo, talvez como eventual prova anexada pelo MP, uma carta de uma senhora chamada Zildete dos Reis. Ela diz que trabalhava “na casa do Arcanjo (…) olvi entre os funcionarios que o sr. Serjo Gomes estava planejando um assacinato de uma pessoa importante (…) que o nome se dizia Selsso Danil (…) o sr. Arcanjo também é responssavel pelo desaparecimento do meu irmão (…)”. Zildete pede ajuda ao MP para esclarecer o sumiço do irmão – ajuda que com certeza já deve ter sido prestada. Com todo o respeito à dor de Zildete, essa carta deveria estar anexada ao processo de desaparecimento do irmão, e não ao processo que corre inexplicavelmente em sigilo sobre a morte de Celso Daniel. No início da noite da sexta-feira o Tribunal de Justiça não concedeu liminar no habeas-corpus.

São Paulo, sexta-feira 12. Eram nove horas da manhã quando um time de nove advogados criminais colocou um ponto final na redação do pedido de habeas-corpus do empresário Sérgio Gomes da Silva. Foram 12 horas de trabalho ininterrupto.