No cenário político, nunca faltaram musas. Uma a uma, deusas, divas, déias, ninfas, sílfides e olímpicas valquírias ocupam seus 15 minutos sob a luz de eleições futuras ou o clarão de escândalos recentes para desaparecer em seguida. Este não é o caso de dona Maria Lúcia Alckmin, a Lu, primeira-dama do Estado de São Paulo, esposa do governador Geraldo Alckmin. Aos 54 anos, comprováveis apenas diante da apresentação de documentos, a morena paulistana, mãe de três filhos, soube combinar a elegância discreta a um trabalho de formiguinha obreira que aprendeu com dona Lila Covas, sua antecessora no Palácio dos Bandeirantes, mulher do falecido governador Mário Covas. E se mantém no noticiário iluminada por luz própria.

E é em torno dessa mulher batalhadora e bem falante que gira Seis lições de solidariedade com Lu Alckmin (Editora Gente, 208 págs., R$ 25), o novo livro de Gabriel Chalita, secretário de Estado da Educação e amigo da primeira-dama. Escrito em primeira pessoa, o que faz com que os leitores o chamem de “livro da Lu” – “primeiro e único” garante ela –, o texto é estruturado como se a mulher passasse a noite de seu aniversário excitada e com insônia. Os cinco primeiros capítulos são compostos por conversas. Sentir o milagre da vida, com Alckmin; Aprender com o sofrimento, com Thomaz, o filho caçula de 22 anos; Saber partilhar
a vida
, com Geraldo, 24; Viver a bondade, com Sofia, 25; e Ter humildade para aprender e disposição para ensinar, novamente com o governador. Acreditar no
amor maior e transbordar amor
, o derradeiro capítulo, é ambientado no café da manhã da família.

Essa estrutura permite que Lu discorra sobre suas realizações à frente do Fundo Social de Solidariedade, que atua em favelas e em 1.900 entidades da capital, além de 645 cidades do interior, valendo-se dos Fundos Municipais de Solidariedade. A idéia básica colocada em prática por Lu é não dar peixe, mas ensinar a pescar. Assim, a população é incentivada a se autopromover através de padarias artesanais, escolas de costura, casas de brinquedo e espaços onde agentes multiplicadores são formados. Ou seja, se Lu se afastar da direção do Fundo, com a descompatibilização de Alckmin, o movimento continua – já sendo adotado em 16 Estados brasileiros e países como Paraguai e Israel.

O charme de Seis lições está na biografia de Lu, sétima entre os 11 filhos do casal Adhemar e Renata Ribeiro. Quando Maria Lúcia tinha quatro anos, sua família mudou-se para um sítio em Moreira César, perto de Pindamonhangaba, terra de seu futuro marido. A bela morena atribui seu modo de ser à vida simples ao lado de gente humilde, à harmonia familiar e, principalmente, à disposição da mãe, sempre ajudando os desfavorecidos. O Vale do Paraíba tinha seus problemas mas nada que se compare com a incidência registrada hoje em dia, tanto de gravidez infantil quanto de Aids entre idosos – devido ao Viagra.

A vida feliz de Lu e de sua família foi interrompida aos 13 anos, com a morte de seu pai, Adhemar. Só no mundo, a mãe, Renata, tomou uma decisão. Os homens da família – Adhemar, Tom, Paulo César e Pedro César – entrariam para a faculdade. As mulheres – Sílvia Helena, Judith, Renata (falecida recentemente), Gilda, Maria Lúcia, Vera e Ester – iriam trabalhar. Lu estudou corte e costura, começou a criar seus vestidos e logo passou a bordar jeans, que comprava em São Paulo e revendia em sua loja, a LM Sports, à qual esteve à frente por 12 anos. Tudo está contado no livro. “Desde menina, sempre gostei de fazer diários”, diz Lu, que conservou o hábito quando veio morar em São Paulo, na época em que o marido era vice-governador. Quem entrar em sua sala, no Palácio dos Bandeirantes, de fato vai encontrar inúmeros cadernos cheios de fotos e com anotações caprichosamente manuscritas. Mania da linda avó, vidrada em Isabela, filha de Thomaz, e vista recentemente nos shows de Roberto Carlos e Zezé Di Camargo & Luciano tão animada quanto em qualquer reunião do Fundo que dirige.