Tinha tudo para dar certo. Bang bang, a novela das sete da Rede Globo, estreou em outubro alardeando aos quatro ventos suas inovações: uma história de faroeste recheada de referências cult – de Quentin Tarantino à Beatles, com direito a desenho animado na primeira cena. O time de atores foi um capítulo à parte, misturando medalhões da teledramaturgia, como Mauro Mendonça e Joana Fomm, com novatos vindos de outras bandas, a exemplo da apresentadora Fernanda Lima e dos cantores Paulo Miklos e Luiz Melodia. Bang bang marcou ainda a volta do autor Mário Prata, que há 20 anos não emplacava um folhetim. Como se não bastasse, A lua me disse, trama antecessora de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, deixou cravados generosos 40 pontos no Ibope, revigorando o horário, que andava caído. De nada adiantou. Bang bang não correspondeu às expectativas e está prestes a entrar para o rol dos grandes vexames da televisão brasileira.

Dos 36 pontos da estréia, a novela despencou para 25, nos quais se mantém com muita dificuldade. Prova de amor, a “novela global” da Record, está na casa dos 19. O resultado do fiasco já surtiu efeito: a trama terá 30 capítulos a menos, o escritor Carlos Lombardi foi chamado às pressas para tentar juntar os cacos e o autor João Emanuel Carneiro trabalha a todo vapor na substituta Coração de ouro. A Globo sabia que Bang bang era um tiro no escuro. Prova disso, foi a escalação de uma equipe reserva de escritores, caso o humor do autor mudasse. O que não tardou a acontecer.

Outro risco que se provou um erro foi a escolha de Fernanda Lima para viver Diana Bullock. O carisma e a beleza da moça, que bastavam em programas de auditório, não foram suficientes para fazer dela uma boa atriz. Agora, sob o bisturi de Carlos Lombardi, Fernanda deve passar pela “operação Sol”, aquela que fez a protagonista egoísta e inconseqüente de Deborah Secco, em América, se transformar numa mulher batalhadora e solidária. A durona Diana ficou mais meiga e romântica. A começar pelo figurino, que das calças de couro encardidas e botas de montaria passou para peças claras, com direito a babadinhos. Mudança tão radical mataria Sol de inveja.

Na gestão Lombardi – oficialmente apenas um consultor da novela –, algumas cenas estão sendo refeitas e o tom humorístico deve mudar de rumo. Se Mário Prata brincava com as referências cult, o novo autor gosta mesmo é da comédia de situação, com personagens atrapalhados metidos em lances bizarros. Sem esquecer as pitadas de sensualidade. O romance de Diana e Ben Silver (Bruno Garcia) ficará mais apimentado com a entrada de um personagem que disputará o coração da bela. Os “fortões descamisados”, presença quase obrigatória nos folhetins de Lombardi, devem ficar de fora, já que se trata de um faroeste. Mas, vindo de Bang bang, nada é inesperado. Nem bala perdida.