Adriana Calcanhotto fecha o ano como azarão do mercado infantil. Enquanto as louras apresentadoras despencam na preferência das crianças, a cantora morena emerge como rainha: o CD Adriana Partimpim (que vendeu 100 mil cópias no Brasil e 80 mil em Portugal) virou show de mesmo nome (11.628 espectadores no Brasil e 24.700 em Portugal) e, agora, ganha uma caprichada versão em DVD (Sony BMG). “Ela é uma artista independente e tem contrato separado com a gravadora”, diz Adriana sobre Partimpim, seu apelido de infância. As assinaturas são diferentes, as roupas e letras de músicas idem, mas a suavidade de Adriana é a marca de ambas. Tirando a triunfal entrada em cena, aparentemente carregada por balões de gás, não há rompantes cênicos ou histrionismo no show. Ela mantém os pequenos quietinhos e sentados nas cadeiras enquanto canta, por exemplo, que “todo mundo um dia foi neném, Einstein, Freud e Platão também”, como diz um trecho de Saiba, de Arnaldo Antunes.

Encantamento – Partimpim rompe os limites discretos de Adriana, que se permite, na pele do heterônimo, combinar verde e rosa em roupas, adereços e até na guitarra. “Quando era pequena e via essas cores no desfile da Mangueira pela televisão, eu falava: ‘Não sei o que é, mas eu sou isso.’ É encantamento”, afirma. De suas lembranças da infância vêm, também, o conceito e a comunicação com o público. Como ela “achava chato” o mundo infantil e detestava “ser tratada como criancinha”, não há linguagem tatibitate no show e muito menos nas letras das músicas. O envolvimento com esse universo não desperta em Adriana vontade de ser mãe. “Não tenho instinto maternal. A relação que tenho com o público infantil não é de mãe, é de cumplicidade”, analisa.

Com 40 anos e aparência de garota, ela diz perceber que a criançada não sabe
sua idade: “No camarim, acho que eles têm dúvida se sou criança ou adulta.”
A aparência jovial é um prêmio da genética porque Adriana não faz ginástica regularmente, não segue dieta, não usa muitos cremes. Nada contra os tratamentos para ficar bonita, mas ela resume: “Não gosto é de sacrifícios. Gosto de ser feliz.” Nascida em Porto Alegre, ela fez muitos shows em churrascarias no Sul até mudar-se para o Rio de Janeiro, em 1989, quando fez a primeira apresentação na cidade – e foi catapultada para a fama. Solteira, vive numa confortável casa em meio a montanhas e árvores no Alto da Boa Vista, na companhia de quatro gatos, entre
os quais Lig-lé (nome de uma música do show), “a gata siamesa que manda
em mim”, como disse. “A beleza avassaladora do Rio relativiza tudo, todos
os problemas”, diz a letrista de Cariocas, na qual chama os moradores de
“bacanas”. Adriana não gosta de fazer planos para o futuro e diz que Partimpim
é a prova de que “as coisas vão acontecendo como têm que acontecer”. Ela tem certeza, apenas, de que Partimpim e Calcanhotto não podem trabalhar simultaneamente. “Não costumo fazer dois projetos ao mesmo tempo. Agora,
estou Adriana Partimpim.”