As eleições realizadas no domingo 11 no Chile foram o último ato da longa transição à democracia naquele país, iniciada há 15 anos com o fim da ditadura (1973-1990) do general Augusto Pinochet. A socialista Michelle Bachelet, candidata da Concertación – coalizão de socialistas, democratas-cristãos e radicais que governa o país desde 1990 –, recebeu 45,95% dos votos e vai disputar o segundo turno, em 15 de janeiro, com o empresário Sebastián Piñera (da Renovação Nacional), que recebeu 25,41%. O candidato da direita, o ex-prefeito de Santiago Joaquín Lavin (União Democrática Independente), teve 23,22%.

O próximo presidente, seja quem for – e Bachelet é a favorita –, receberá um país estável política e economicamente, mas ainda assim terá grandes desafios. O presidente Ricardo Lagos, também socialista, está deixando o cargo com um dos índices mais altos de popularidade do continente – entre 67% e 70% de aprovação. Há bons motivos para isso: durante sua gestão, o governo finalmente se livrou dos últimos resquícios da era Pinochet: os senadores biônicos e a proibição de o presidente mexer no comando das Forças Armadas. O próprio Pinochet, outrora tão poderoso, hoje amarga prisão domiciliar, acusado de crimes de sangue e corrupção. Outras medidas fizeram o Chile se parecer ainda mais com uma democracia de gente grande, como a lei do divórcio e a abolição da pena de morte, ambas em 2004. Também colaboraram para a popularidade de Lagos a retomada do crescimento da economia – acima de 5%, beneficiada pela alta do cobre – e a diminuição dos índices de pobreza (de 39% em 1990 para 19%).

Mas, se a pobreza é menor, a distribuição de renda ainda deixa a desejar. “Necessitamos de crescimento econômico mais políticas sociais. Quando
as pessoas não vêem os frutos do crescimento, caem na tentação do populismo”, admitiu Lagos à revista britânica The Economist. Além disso, mesmo com índices macroeconômicos de dar inveja à turma do Palocci – dívida pública de 12% do
PIB, superávit fiscal nominal de 1% – o país ainda tem sua sorte amarrada às exportações de cobre (45% do total). “O teste para a aspiração do Chile de se
tornar um país desenvolvido virá quando os preços do cobre voltarem ao chão”, concluiu a Economist.