Quem, nesta era de incertezas, acredita em Kris Kringel? Brasileiros, com certeza, não põem nenhuma fé. Franceses, argentinos ou até os supostamente ingênuos habitantes das ilhas Fiji, também descrêem. Muito provavelmente, a maioria das pessoas no mundo nem sequer sabe quem é este sujeito. A exceção fica por conta dos americanos. Kris Kringel, nos Estados Unidos, é o nome de Papai Noel. Mas e o Santa Claus?, perguntarão os incréus. Explica-se: Santa é para os mais íntimos, mas Kringel é o oficial, de batismo. Trata-se, obviamente, de mais uma apropriação indevida do imperialismo americano. Todo mundo sabe que o verdadeiro presenteiro compulsivo chama-se Papai Noel. Ou melhor: para os franceses ele é só Noël. E para argentinos (e corintianos) é Carlito Tevez. Pensando bem, cada terra chama o homem com nome diferente. Pior: as imagens e atributos da figura mudam de acordo com o gosto de cada país.

Na Noruega – a primeira a reconhecer o Bom Velhinho –, ele começou como a criatura pagã chamada “Velho Inverno”. Um tipo que se cobria de peles e ia de casa em casa para beber e comer à vontade. Acreditavam que, deste modo, o
inverno seria menos rigoroso. Mas o tipo, convenha-se, não era muito católico.
Para convertê-lo, mesclaram-no à figura de São Nicolau, do século IV, o padroeiro das crianças, dos navegantes e da Rússia. Ele foi bispo de Myra (Turquia) e morreu queimado pelos romanos. Conta-se que Nicolau tinha mania de dar presentes, principalmente às crianças. Jogava sacos de moedas de ouro pela janela de desconhecidos. Os noruegueses, então, acharam que este era um substituto ideal do Velho Inverno.

Na Holanda, o velhinho recebeu o nome Sinterklaus, donde a alcunha de Santa Claus, trazido para Nova York pelo primeiros colonizadores holandeses, que, como se vê, não eram muito bons de ortografia. Kris Krindel, diga-se, também vem do holandês mal ajambrado, numa corruptela de “Christkindl”, ou Menino Jesus, figura que concorreu ao posto de presenteador de Natal – afinal, a data comemora seu nascimento –, mas acabou perdendo para Nicolau.

Em alguns lugares, como na Holanda, o Bom Velhino não faz tanto jus ao adjetivo. Na crença local, Sinterklaus vem acompanhado por cerca de seis a oito escravos negros e parrudos. Klaus tanto pode dar presentes quanto punir os malcriados. Quem não se comportou bem durante o ano é espancado pelo velho e pelos seis – ou oito – escravos. A vítima, depois, é colocada num saco e levada para – pasmem – a Espanha. Na Alemanha, o homem vem acompanhado de um certo Rupprecht (também conhecido como Krampusse ou Hans Trapp). O parceiro de múltiplas identidades traz à mão um chicote e vergasta o lombo dos pequenos malcomportados. Há ameaças veladas de empacotamento da molecada em sacos, como na Holanda.

As lendas sobre Papai Noel, como se vê, são um saco sem fundo. Há quem jure
que a figura foi criada pela Coca-Cola – por isso a roupa vermelha e branca. Não
é verdade, quem deu contornos definitivos ao simpático ancião gordo foi o cartunista alemão-americano Thomas Nast, que fez ilustrações de Natal para a revista
Harper’s, entre os anos 1861 e 1869. Nast não ganhou royalties pela criação, mas Papai Noel encheu a burra de grana. Segundo o ranking de milionários fictícios da Forbes, Santa Claus ocupa o primeiro lugar (com infinita riqueza), muito acima do Tio Patinhas (com meros US$ 8,2 bilhões), que é o oitavo colocado. Dá para acreditar?